A Verdade do Vinho - 3
Nos anos 50 do século passado, Nikita Kruschev, segundo relatos populares, inebriado após um lauto jantar, decidiu impulsivamente transferir a província da Crimeia para o domínio da República Socialista Soviética da Ucrânia.
Foi um presente, um gesto para reforçar a "grande e indissolúvel amizade" entre os dois principais povos soviéticos. Com a queda da URSS, a Crimeia permaneceu como parte da nova Ucrânia.
Por não entenderem a verdade do vinho – uma metáfora para a subtileza das relações históricas e culturais – os russos nunca conseguiram interiorizar a perda da Crimeia. Quando a “primavera” ucraniana eclodiu em 2014, esta incompreensão profunda logo forneceu a Putin o pretexto necessário para recuperar aquele território na costa norte do Mar Negro.
A “grande e indissolúvel amizade” mingou a ponto de se dissolver inevitavelmente. O que se seguiu é dramaticamente conhecido. O que continua a acontecer é catastrófico.
Tiram-se daqui duas grandes lições. Primeira, o álcool que toldou Nikita não serve de justificação para as consequências duradouras da sua decisão. Segunda, as hipotecas da História nunca se cancelam.