Beijar o Cão na Boca
Um recente estudo realizado pela Universidade de Lisboa, em parceria com o Royal Veterinary College do Reino Unido, traz um alerta alarmante para os cuidadores de animais: beijar um cão pode ser mais perigoso do que parece! A investigação revelou que a saliva canina pode abrigar superbactérias resistentes a antibióticos, capazes de causar doenças graves e até fatais em humanos.
Este dado levanta uma questão importante sobre como interagir com os animais de companhia e leva a ponderar diferentes práticas culturais relacionadas com tais interações. Conhece-se, por exemplo, a expressão do Norte de África “é preciso beijar o cão na boca”. Numa sociedade predominantemente muçulmana que interpreta o cão como o “outro”, isto é, o cristão, este ato poderá simbolizar uma tentativa de convivência pacífica e respeitosa, superando barreiras de preconceito. Por outro lado, num contexto em que o cão é considerado impuro, dir-se-á que beijá-lo pode ser mais bem entendido como expressão de desprezo.
Também o cinema explora complexidades culturais ao retratar interações entre humanos e seres de quatro patas, usando este tipo de encontros para abordar temas de igual modo profundos. No “ABC do Amor” (“Everything You Always Wanted to Know About Sex”, adaptado ao grande ecrã em 1972), a história da atração de um bom médico por uma ovelha tresmalhada ilustra bem esta ideia. Curiosamente de seguida, na cena talvez mais emblemática, Allen, no papel de espermatozoide, enfrenta o inevitável impulso do sistema reprodutor, que o lançará no salto para o abismo desconhecido.
A maior incerteza, a grande dúvida existencial reside no que ocorrerá depois desse momento originário.