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Cidade sem Tino

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade sem Tino

Sobre o blog

No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

Sobre mim

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Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

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Out24

O Paradoxo Persa

Mulheres persas.jpg

O Irão é um país de paradoxos profundos, onde o fascínio se mistura com a estranheza em cada esquina. Um fascínio que nasce de uma cultura com mais de cinco mil anos, cujas raízes mergulham na filosofia de Zoroastro (bons pensamentos, boas palavras e boas ações!) e na grandeza de impérios que marcam a história da antiguidade e do mundo. No entanto, o desenvolvimento tecnológico atual, impressionante nos campos científico e militar, convive lado a lado com tradições que, embora moldadas pela islamização após a conquista árabe no século VII, ainda ditam muitos aspetos do quotidiano. O passado e o futuro encontram-se, mas nem sempre se compreendem.

 

 

Nas ruas e avenidas, homens e mulheres percorrem caminhos separados, como se a geografia do apartheid se desenhasse sob os seus pés. O hijab, o niqab, o chador — cada um conta uma história de silêncios impostos. As mulheres, ao falar com estranhos, especialmente com estrangeiros, sublinham cada frase com o brilho intenso dos olhos e a agitação dos braços, dos quais apenas se veem as mãos longas, dedos de pianista que parecem bailar nas entrelinhas do que não podem dizer.

Várias polícias vigiam-se mutuamente, numa dança de repressão em que o cidadão comum é o espectador indefeso. E, no palco da obediência, a temida polícia de costumes tudo vê, tudo julga. Sob o regime dos Reza Pahlavi, os persas vislumbraram uma liberdade de costumes que nunca se traduziu em democracia política ou justiça social — um vazio que, com Khomeini, foi preenchido com a retórica religiosa, consolidando a autoridade dos clérigos.

Em nome de Alá, o Misericordioso (assim começa todo o discurso oficial), garantiu-se a licitude do regime, e com ela veio o peso de um destino traçado para as mulheres. Nas páginas sagradas do Corão, encontrou-se a justificação para o silêncio e a submissão. A vulnerabilidade da mulher, diante de um futuro que não escolheu, fechou o círculo. Mas, dentro deste silêncio, as mãos e o brilho dos olhos aspiram ainda a uma liberdade por conquistar — uma voz que, embora calada, nunca deixou de querer ser ouvida.

 

Nota:

Foto publicada em dnotícias.pt, 14 de abril de 2023.

 

17
Set24

O Dever acima de Tudo ou a Insaciável Crueza do Ter

rico e gordo.jpg

 

Só por ironia se pode confundir o substantivo da expressão “o dever acima de tudo!” com o verbo transitivo dever, no sentido de “ter uma dívida de 500 escudos”. E, no entanto, esta confusão é reveladora. O "dever" moral, como obrigação inescapável, carrega consigo uma carga tão pesada como qualquer dívida monetária. Há professores de Português que passam catrefadas de deveres. Por supuesto debemos estarles agradecidos – a gratidão é, também ela, uma espécie de dívida moral. Seja como for, dever hoje 500 escudos é mais do que improvável. Nem o escudo nem as dívidas duram eternamente. Mas o dever é como aquele parente chato que nunca se vai embora, sempre a lembrar-nos de como as coisas têm de ser, mesmo quando fingimos não ouvir.

Se o "dever" é essa presença incómoda e constante, o "ter" é o outro lado da moeda, igualmente implacável. Esmiuçando: "a insaciável crueza do ter" expõe a sua natureza faminta, a ambição que jamais se sacia. Como o dever, o ter é também uma expectativa esmagadora, mas ao contrário do primeiro, o seu peso é distribuído de modo desigual: quem mais tem mais quer. A crueza do "ter" não reside apenas na quantidade, mas na tirania que impõe. É o império da posse, onde a fortuna decide arbitrariamente os seus favoritos. Má fortuna, por sua vez, é quase sempre a norma, enquanto poucos acumulam o que para tantos outros será eternamente inalcançável.

Ter não é senão um verbo – simples, despojado de complementos – mas transforma-se num substantivo – teres – quando designa o que alguém possui, por vezes à custa de outros. Numa sociedade que valoriza o ter acima de tudo, as desigualdades tornam-se quase naturais. No entanto, o "dever" e o "ter" não são forças opostas; coexistem, alimentam-se uma da outra. Quem tem deve. Quem deve deseja ter. E, assim, fecha-se o ciclo.

O espetáculo, claro, tem de continuar!

 

A frase "The show must go on" em Os Cavalos Também se Abatem (1969), realizado por Sydney Pollack, simboliza a cruel indiferença de um espetáculo que, mesmo diante da exaustão e do sofrimento humano, exige continuidade a qualquer custo.

Da mesma forma, "The show must go on / The show must go on, yeah / Inside my heart is breaking / My make-up may be flaking / But my smile still stays on" (1991), dos inesquecíveis Queen, expressa a luta para prosseguir, ainda que o coração ameace sossobrar.

 

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