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Cidade sem Tino

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade sem Tino

Sobre o blog

No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

Sobre mim

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Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

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Jun24

A Mulher segundo Qaddafi

Marcus_Aurelius_Arch_Tripoli_Libya.jpg

 

À sombra do Arco de Marco Aurélio em Trípoli, onde a história romana se cruza com a civilização árabe, um restaurante requintado guarda segredos tão exóticos quanto os pratos que serve. O seu proprietário, um árabe com profundas raízes no Brasil – e que, por isso, fala português – oferece um menu que capta a imaginação dos visitantes. De entre as opções, o baby camel destaca-se como prato singular e sumptuoso. O camelo bebé é cuidadosamente preparado e depois estufado lentamente numa tagine, vedada com barro. Quando o prato é apresentado à mesa, quebra-se a selagem com a precisão de uma cimitarra, num cerimonial impressionante.

No meio de uma estada rica em exotismo e sabor, as minhas andanças pelo centro histórico de Trípoli levaram-me a outra descoberta cultural: uma pequena publicação de capa dura, quase sagrada, conhecida como o Livro Verde. Comprado por cinco dinares numa loja de bugigangas, este livro apresenta a peculiar visão do antigo líder líbio Muammar al-Qaddafi no domínio da filosofia política. Contém um capítulo sobre a base social da Terceira Teoria Universal, onde se aborda o papel da mulher. Traduzo:

É um facto indiscutível que tanto o homem como a mulher são seres humanos. A mulher come e bebe, tal como o homem... A mulher ama e odeia, tal como o homem... A mulher pensa e aprende, tal como o homem. A mulher tem sede e fome, tal como o homem. A mulher vive e morre, tal como o homem.

Por que razão existem, então, homem e mulher? Por que razão não foram apenas criados homens? Qual é, afinal, a diferença entre homem e mulher? Tem de haver uma qualquer necessidade natural para a existência de homens e mulheres, em vez de apenas homens ou apenas mulheres.

Isto significa, com efeito, que existe, para cada um, um papel que se adapta à diferença entre eles.

A mulher é fêmea e o homem é macho. De acordo com os ginecologistas, a mulher é menstruada, ao passo que o homem, sendo macho, não é menstruado e não está sujeito ao período mensal de hemorragia.

O ciclo menstrual para quando a mulher engravida. Se ela está grávida, fica, devido à gravidez, doente durante cerca de um ano. Como o homem não engravida, não está sujeito às doenças de que a mulher, sendo fêmea, sofre.

O autor continua:

Dispensar o papel natural da mulher na maternidade, isto é, arranjar creches para substituir as mães é o princípio de dispensar a sociedade humana, transformando-a numa sociedade biológica com um modo de vida artificial. Separar as crianças das mães e amontoá-las em creches é um processo através do qual estas são transformadas em algo parecido com pintos. As creches parecem-se com aviários onde os pintos são engordados, depois de saírem do ovo.

Nada a não ser os cuidados maternais são apropriados à natureza do homem e conformes com a sua dignidade.

O Livro Verde era destinado à leitura por todos os líbios. Diversos trechos foram transmitidos diariamente na televisão e na rádio, e os seus slogans podiam ser vistos em outdoors em todos os cruzamentos, com o Coronel Qaddafi, de óculos escuros, omnipresente.

Se o baby camel representa uma fusão de exotismo e sabor na culinária local, o Livro Verde de Qaddafi trouxe uma mistura de ideologia e autoridade que, durante décadas, se refletiu em todos os aspectos do quotidiano líbio.

 

A foto foi retirada da Wikipedia.

O Livro Verde, publicado originalmente em 1975, foi traduzido para 90 línguas.

 

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