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Cidade sem Tino

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade sem Tino

Sobre o blog

No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

Sobre mim

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Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

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Ago24

Algumas Notas sobre a Bravura dos Patos

Patos.jpg

Não, "patobravura" não é um neologismo, mas sim a adequada expressão da audácia que caracteriza certos empreendedores. A série dinamarquesa "Hotel à Beira-Mar", apresentada pela RTP2, transporta-nos ao início do século XX. O Sr. Madsen, um personagem que destila ambição e desejo de ascender socialmente, demonstra um pragmatismo nos negócios feitos nas costas do Mar do Norte que poderá ter inspirado alguns promotores imobiliários portugueses.

 

São conhecidos por patos-bravos muitos dos promotores imobiliários das últimas décadas do milénio passado que buscavam o lucro fácil. Dividem-se nas subfamílias de patos muito bravos e patos-bravos mais mansos. Alguns deles voaram para o presente milénio. Os edifícios que promoveram e promovem partilham normalmente uma mesma estética que arma ao pingarelho, registada nos manuais de história da arquitetura como Estilo Patobravo ou, em inglês, Cowboy Style Construction.

O termo patobravo descreve originalmente o servente da construção civil que, deixando Tomar, onde o rio Nabão é literalmente povoado por patos, migra para Lisboa. Nesta quase metrópole, transforma-se em promotor ganancioso, espertalhão, muitas vezes sem escrúpulos, fazendo fortuna rapidamente à custa de edifícios de gosto e qualidade duvidosos. Um fenómeno explorado na obra “LX60: A Vida em Lisboa nunca mais Foi a Mesma” de J.S.Vilela e N.Mrozowski.

Nos prédios caracterizados por esse estilo, as varandas predominam e, logo após passar a “senhora vèstoria", são inevitavelmente convertidas em marquises personalizadas à vontade de cada condómino.

Tomás Taveira, defendendo o pavilhão marquisado de CR7 no prédio mais caro do país, destacou, em entrevista ao semanário “Sol”, que as pessoas transformam varandas em marquises para valorizar a sua propriedade, conquistar mais espaço ou acomodar novas necessidades familiares.

Curiosamente, foi numa modesta marquise na Travessa do Possolo que um conhecido estadista português encontrou inspiração para escrever a sua autobiografia política, publicada em dois volumosos tomos.

 

29
Jul24

Geoestratégia

 

Muito antes de Vladimir e Volodymyr aparecerem na cena internacional, já se ouvira falar de um tal Baldemiro e das suas estórias. Costumava pedir cimbalino...

 

Geoestratégia.jpg

 

Baldemiro orientava-se bem na vida. Residia no único apartamento que lhe restara, herança de uma família outrora abastada que dominava metade do bairro, após o imóvel ter sido dividido em propriedade horizontal. Sacrificados os anéis, tinham-se poupado os dedos...

A fração autónoma ao lado da sua pertencia agora a Oriana, uma jovem por quem Baldemiro tinha uma secreta paixoneta. Ele permanecia durante horas à cata de Oriana, debruçado o mais que lhe era possível na varanda, a cantar baixinho músicas do Rui Veloso. Uma vez, Oriana reagiu: “Você fala praticamente espanhol, certo?”

Num belo sábado à tarde, Baldemiro resolveu convidar a vizinha a irem à Miss Pavlova tomar um cimbalino pingado. Oriana, sempre elegante e reservada, com um olhar determinado que refletia a sua personalidade e independência, respondeu: “Obrigada, mas estou a fazer dieta!”. Baldemiro, visivelmente frustrado, murmurou: “F…, isto nõo puode ser berdade, carago!”. Oriana, mantendo a postura firme e digna, apenas comentou: “Dizer asneiras é feio, ponto final”.

Foi a gota de água! Durante dias, ele postou-se à varanda, de peito nu, a fazer ginástica e, de tanto exercício, pulou, com a agilidade de um gato, para o lado de Oriana. Numa ação repentina, confinou-a ao quarto interior e tomou posse da sala com vistas para o Douro.

Com Baldemiro a dominar a sala e a sua varanda, a incerteza começou a espalhar-se pela vizinhança, que ao aperceber-se da situação lançava olhares preocupados. Ele, podendo ver tudo e todos, ia assobiando calmamente enquanto refletia sobre os próximos movimentos. Até ao dia em que passou a assobiar o “Anel de Rubi” à lourinha do andar de cima...

 

26
Jul24

Votos

 

A todos os amigos do peito, amigos de outras partes e conhecidos,

aos amoladores de tesouras, caixeiros-viajantes, pesquisadores de ouro,

artífices de bugigangas, artistas plásticos e não plásticos

e engenheiros hidráulicos com olhos azuis,

aos cientistas militares, politólogos civis,

sujeitos passivos da guerra, agentes ativos da paz,

vizinhos de famílias desavindas,

descontentes e solucionadores do descontentamento,

ainda aos sonhadores e amantes,

pessoas que menstruam e pessoas que não menstruam – com uma nota especial para o grande João das Regras –

bem como aos que dormem e a todos os que não mencionei, se os houver,

os mais sinceros votos, conforme o caso, de bom trabalho ou excelente fim de semana.

 

08
Jul24

Território do Nada

1_Deserto.jpg

 

Well I am telling you there is hope. I have seen it. But it does not come from governments or corporations. It comes from the people.

Uma paisagem desértica desdobra-se, marcada por terreno irregular e montanhoso. A areia, em diversas tonalidades e texturas, forma pequenas dunas e cristas onde o vento soprou, quase apagando as pegadas – vestígios de um viajante recente ou talvez de um animal – que contrastam com a vastidão desabitada. A luz suave, provavelmente do fim de tarde, dá um tom dourado à cena, destacando a sua beleza serena e desolada.

Há seis mil anos, o Saara era uma área verdejante. Oscilações no eixo da Terra transformaram esta região num deserto – um processo natural, ao contrário da atual desertificação provocada pela atividade humana e pelas alterações climáticas. “Fogo que arde”, visível e notório, tempestades, inundação súbita dos “saudosos campos do Mondego”…

O território é como um papel de desenho. Lembro-me das palavras gaguejantes, mas certeiras, do meu mestre:

Olhai, senhores! Quando desenhamos... vede! Quando riscamos, o mais importante… aquilo que importa, senhores, é [definitivamente] não estragar a beleza de uma folha de papel em branco.

A aceleração das alterações climáticas tem impacto em todos os setores de atividade. Neste contexto, economistas e sábios de diversas áreas podem reduzir o papel do deserto a uma espécie de natureza morta. Paralelamente, o negacionismo ganha voz – uma recusa em enfrentar verdades desconfortáveis. “Os eunucos devoram-se a si mesmos.” O negacionismo nega-se a si próprio.

Enquanto isto, o vento e a areia compõem e recompõem a paisagem com as suas próprias lógicas e estéticas. São eles os elementos do deserto, os escultores de cenários e texturas.

 

Notas de citação:

“Well I am telling you there is hope” (Greta Thunberg).

“Fogo que arde sem se ver” e “saudosos campos do Mondego” (Luís de Camões).

“Os eunucos devoram-se a si mesmos” (José Afonso).

 

28
Jun24

Ares Majestáticos

Uma postura majestática transcende a mera configuração física e condensa uma aura de poder, grandiosidade e presença imutável que impõe respeito. Tal postura, frequentemente reservada para a nobreza ou para os mais altos escalões da sociedade, sublinha o seu peso de autoridade e a gravidade histórica através do silêncio e da quietude.

 

 

Considere-se uma figura sentada em silêncio, cuja postura não é apenas uma pose, mas uma declaração de resistência ao avanço implacável da história. Esta imagem, reminiscente de um monarca, evoca a expressão idiomática "esperar sentado", sugerindo uma serenidade e paciência nascidas do poder e da segurança de um legado. A postura majestática aqui é estática, opacamente soberana, inabalável face às flutuações dos tempos.

Descrever uma postura majestática exige captar as subtilezas que a fazem não só visível como também sentida. A figura, envolta em mantos de autoridade, senta-se com a coluna tão direita quanto a linhagem que representa. A cabeça ergue-se, não por arrogância, mas como uma necessidade imposta pela dignidade de quem suporta o peso de uma coroa, ainda que virtual. Olhos aguçados e perspicazes varrem o horizonte. Não apenas olhando, mas também antevendo, sempre vigilantes para evitar a complacência que a paz pode trazer.

As mãos de tal personagem são particularmente reveladoras. Uma repousa suavemente sobre um apoio de braço, dedos adornados com os anéis do poder, cada joia o testemunho de uma batalha vencida, um tratado assinado ou um casamento que selou a paz. A outra mão talvez segure um cetro ou um pedaço de pergaminho, símbolos de governança e sabedoria. Estas mãos não tremem; são firmes, e cada gesto é deliberado, cada movimento cuidadosamente orquestrado para alcançar um propósito específico.

Ao fundo, reverberam as ações das corporações do reino, que continuam e continuarão a moldar os contornos da sociedade. Ainda assim, a figura permanece como ponto focal, um pilar de força por entre os sussurros suaves dos cortesãos e o clamor distante do povo. O ambiente está impregnado do peso da história, cada artefacto ao redor sussurrando lendas de antecessores que estabeleceram as bases do seu poder.

Quando tal personagem, por encanto, se digna falar, a sua linguagem não é apenas uma ferramenta, mas uma arma. Emprega o plural majestático, falando de "nós" em vez de "eu", encapsulando uma tradição que se estende por gerações. Tal recurso não é gramatical, mas simbólico, paradigma de quem não fala apenas por si próprio, mas como a encarnação régia de um passado, que pretende estender ao presente e ao futuro.

 

24
Jun24

Arquitetura e Comunicação Social: Pós-Modernismo e Pós-Verdade

- Está a falar a sério ou a brincar?

- A sério, claro!

- Ora ainda bem, que eu não gosto de brincadeiras.

 

1

Pós-modernismo.jpg

 

O pós-modernismo surgiu, em meados do século passado, como uma atitude crítica ao movimento moderno predominante. Esta atitude semeou frutos no pensamento arquitetónico, enriquecendo um discurso enraizado na história e no lugar. Não obstante ser válido como crítica, o pós-moderno falhou quase sempre na concretização – esta mais estilística do que substancial – de que resultaram abundantes pastiches desligados de qualquer contexto.

Assim como os cidadãos atentos podem ser irónicos e mordazes perante a política, também os primeiros críticos pós-modernos desafiaram as convenções do movimento moderno e do estilo internacional. No entanto, tal como a política exige responsabilidade aos seus líderes, o desenho de arquitetura precisa de autenticidade e compromisso com a envolvente e os utilizadores.

No ato da conceção, a responsabilidade e a funcionalidade não deveriam sucumbir à ironia e à experimentação lúdica.

 

2

Pós-verdade.jpg


Certo é que o termo pós-verdade se tornou popular no contexto do referendo do Brexit e das eleições presidenciais nos EUA em 2016, cujas campanhas foram marcadas pelo uso intensivo de notícias falsas e declarações enganosas. Desde então, a pós-verdade tornou-se tema de análise e debate, especialmente no que respeita ao seu impacto na opinião e na qualidade da democracia.

 

3

Tanto o pós-modernismo na arquitetura como a pós-verdade na comunicação social desde logo se distanciam da adesão a uma verdade absoluta ou objetiva. No pós-moderno, o fenómeno manifesta-se na adoção de estilos incoerentes ou desconexos, levantando a questão da autenticidade das intenções da arquitetura. Na pós-verdade, relativiza-se o tratamento dos factos, muitas vezes substituídos por narrativas alinhadas mais com crenças individuais ou coletivas do que com a própria realidade.

Assim, em ambos os campos, a verdade – ou a falta dela – torna-se um conceito flexível, e a mentira pode ser quer uma ferramenta consciente de desenho, quer um forte mecanismo de manipulação da opinião pública.

 

12
Jun24

Bairros Comerciais Digitais

Bairro Comercial Digital.jpg

Transformar o centro urbano de Coimbra num condomínio comercial de lojas modernas e com forte presença digital é o objetivo de um projeto que vai ser apresentado em breve. Antes da divulgação oficial, assiste ao cidadão comum o direito à imaginação. Cenário em que importa perguntar: estar-se-á realmente a transformar o espaço urbano ou a esconder as suas imperfeições sob a ilusão digital? São ainda os arquitetos e os operários que moldam o futuro das cidades, ou os informáticos que tecem uma nova realidade? Virtual.

 

1

Convém contextualizar: o parque edificado, marcado pelas rugas do tempo, reflete claramente a evolução das necessidades e desnecessidades urbanas. Os andares onde outrora se situavam prestigiados escritórios de advocacia e consultórios médicos estão hoje devolutos ou acolhem alguma habitação. Nestes prédios residem imigrantes, em sótãos sobrelotados, enquanto estudantes vivem em estúdios que receberam uma nova camada de tinta.

2

Percorre-se as ruas, encontra-se um ambiente de lojas desgastadas e caóticas, cujos empregados já conheceram dias de maior atividade e entusiasmo. Porém, com alguns retoques de Photoshop e um upload habilidoso na internet, estas mesmas lojas logo emergem como entidades novinhas em folha, perfeitamente operacionais e competitivas, tornadas verdadeiras organizações de sucesso.

3

Imaginem só: os utilizadores do centro urbano de Coimbra a nunca mais escorregarem na íngreme rampa de Santa Cruz. A não sofrerem com o calor do verão nem com a chuva do inverno na animada Ferreira Borges. A não terem de tatear o caminho quando a luz faltar na "Rua Visconde da mesma”, tal como rezava um título da imprensa de antanho. Imaginem só as pessoas desobrigadas de aturar cantadores desafinados defronte das esplanadas, e de ouvir, na porta de Almedina, os fados de sempre, em alto volume, de manhã até à noite. É que o fado não é para ser sorvido à colher de sopa.

No hell below us
Above us, only sky

You may say I'm a dreamer
But I'm not the only ooooone

4

O novo centro urbano é uma espécie de evangelho apócrifo (sendo certo que este não é inimigo dos canónicos). Ou melhor, o centro destinado a ser percebido pela maioria dos seus utilizadores é talvez uma realidade simulada do tipo Matrix.

As lojas orientais e de bugigangas de cortiça permanecem, mas só no centro urbano real. No centro urbano digital, transformam-se em espaços de comércio e serviços gourmet que oferecem novos ambientes de experiência. Saem tão favorecidas no retrato que até dá gosto vê-las!

Ironicamente, os utilizadores não precisam de se deslocar ao centro urbano, em pessoa. Futricas, doutores e mesmo estrangeiros, permanecendo confortavelmente em casa ou no hotel, podem captar o espírito daquele lugar, tanto na riqueza física quanto na perceção e emoções.

5

Todos os colaboradores das organizações sediadas no centro urbano de Coimbra ganham uma dentadura branca que, através do ecrã dos computadores, lhes confere um sorriso perfeito e reluzente – a dentadura do proletariado.

A simpática equipa lubrifica os canais de distribuição pelos quais os produtos e serviços chegam à porta dos estimados clientes: através da Uber Eats, da Glovo e do carteiro, que deixa avisos para a recolha das encomendas em postos de correio pequenos, mas agradáveis. As estações de correio já não são meras estações; agora, são lojas de marca.

6

É neste ambiente de satisfação e segurança que se constroem catálogos de pertenças e compromissos; a isso chama-se o espírito do lugar.

Há ideias com poder de transformação que geram momentos muitíssimo luminosos. Convém, por isso, nunca esquecer, além das lentes de computador, os óculos de sol!

 

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No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

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Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

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