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Cidade sem Tino

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade sem Tino

Sobre o blog

No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

Sobre mim

.
Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

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15
Jun25

Nova Utopia: Crónicas de um Não-Lugar

Não reconheço deuses. Apenas equações. E mesmo essas estão sujeitas à dúvida. (Zylon Husk)

 

 

Em tempos recentes — ou futuros, o calendário já pouco importa — os Estados Iluminados da Grande Amérika sofreram uma reconfiguração populista-messiânica. Sob a batuta de Ronald Drunke, presidente vitalício e autoproclamado Sumo Pontífice da Nova Fé — ou, como gostava de ser referido, o “Papa Laranja” — foi criado o Gabinete da Fé: um conclave de tele-evangelistas especializados em transformar promessas de riqueza instantânea em doutrina de Estado.

Da corte balnear de Mar-a-Charco, rodeado de aduladores digitais e coristas automáticos, Drunke comandava os algoritmos do credo nacional — agora reprogramados para substituir relatórios científicos por parábolas de prosperidade — e distribuía as narrativas oficialmente sancionadas de que Deus o entronizara no poleiro supremo da Nova Fé.

“Marte é domínio sagrado da Grande Amérika”, declarou um dia, vestido com manto bordado a insígnias patrióticas, tiara papal forjada a partir de um boné “Make Earth Great Again”, e iluminado por uma versão remixada do hino nacional, com coros sintetizados.

A transmissão ecoou nas vastidões silenciosas de Marte. Zylon Husk, físico visionário e tecnocrata devocional, governava a colónia marciana de Nova Utopia. A propriedade era partilhada, o trabalho repartido com precisão — seis horas por dia —, a lógica ensinada nas escolas, e o progresso avaliado por algoritmos auditáveis. Era um lugar de pausa e de cético esplendor.

Foi então que Drunke, em nome da Nova Fé, emitiu o Ato de Supremacia Cósmica, exigindo que a Nova Utopia reconhecesse a sua autoridade divina — mesmo fora da atmosfera terrestre. Zylon respondeu com uma frase seca:

“Não reconheço deuses. Apenas equações.”

Para Zylon Husk, a verdade não se impunha — depurava-se. Não era um dogma, mas uma hipótese que resistia ao tempo. Nunca seguiu profetas, mas sempre desconfiou dos que falavam em nome da certeza. E se o seu mundo era feito de algoritmos, era porque preferia sistemas auditáveis à opacidade da fé embalada.

Consta que aí teve início o Cisma dos Algoritmos. Drunke, entre cólera e revelação, excomungou Husk como herege interplanetário. A corte de Mar-a-Charco reuniu-se numa transmissão solene em direto e anunciou o envio da Bomba da Fé Absoluta — uma arma sagrada e maravilhosa, criada para apagar dúvidas e impor verdades simples, fáceis e patrióticas.

Na Terra, dizia-se — em voz baixa e por canais pouco confiáveis — que talvez a fé de Husk não fosse negação, mas uma outra forma de crença. Uma que afirmava que a verdade é um bem partilhado — não propriedade privada do poder. Essas vozes foram apagadas. O seu lugar foi ocupado por um número de série.

Em Marte, Zylon Husk não esperava ser salvo. Não era mártir, nem herói — e, acima de tudo, não era sentimental. Por isso, fez apenas o que lhe competia.

Ligou o terminal pessoal. Gravou o seu último registo, encriptado e programado para se apagar sozinho passadas 24 horas. Limpou todos os ficheiros, desligou os alarmes e calou as mensagens automáticas que pudessem denunciar o que se passava. De seguida, escreveu o comando final e confirmou sem hesitar.

Antes de tudo se silenciar, deixou um último apontamento no registo:

A perfeição é uma variável.
A dissidência, um erro.
O silêncio, pura eficiência energética.

Transferiu uma Dogecoin para o moderador — o óbolo de quem atravessa fronteiras irreversíveis.

Saiu em direção à estufa. Foi regar tomates hidropónicos.

 

More.jpg

The Execution of Sir Thomas More, 1591 — A. Caron

 

Nota:

Thomas More escreveu Utopia em 1516, como provocação ética e literária:

Onde há propriedade privada e tudo se mede pelo dinheiro, nunca haverá justiça nem bem comum.

Mas talvez o contrário só exista num não-lugar — naquela ilha impossível onde a sátira subtil não precisa sequer de enfrentar carrascos.

Num gesto de extraordinário humor e dignidade perante a morte, More levou consigo uma moeda para dar ao seu carrasco — como à época noticiava o Guardian.

Nova Utopia é uma visita crítica a esse não-lugar — agora em órbita, entre algoritmos e dogmas recicláveis. 

Mas atenção: Zylon Husk não escreve utopias. Ele recita linhas de código — como outros recitam orações.

 

09
Jun25

Cinco Horas para a Imortalidade

Camoes.png

À beira de mais um 10 de Junho — dia de Portugal, de Camões e das Comunidades — impõe-se a ilustração de Hugo van der Ding: um retrato que é certeiro e cruelmente belo do nosso Poeta em plena aflição produtiva. Algures entre a epopeia e o esgotamento.

 

 

Lá está ele: coroa de louros — provavelmente sintética — portátil sobre a mesa frágil, chávena esquecida, e o olhar de quem já não distingue entre o ritmo heroico e o batimento cardíaco acelerado pela cafeína. Faltam cinco horas. E o Canto IX.

É ali que deviam entrar as musas inspiradoras, as batalhas navais e — com alguma sorte — uma alegoria moral bem colocada. Mas o tempo escasseia. A folha continua em branco. E a dúvida, essa, alastra.

A despeito de atuar com a diligência exigível face às circunstâncias concretas — conseguirá o prestimoso Luís Vaz atingir os seus objetivos?

O prazo aperta. O ânimo falha. E o manuscrito está longe de pronto. Sobram anotações dispersas: “inserir deusa aqui”, “ver mitologia adequada para esta parte”, “acrescentar glória pátria com subtileza”.

Neste Camões, trabalhador precário, exausto, revemos algo muito nosso: o talento à espera do momento certo, a obra-prima quase feita, o engenho confiado ao derradeiro impulso — esse dom nacional do desenrascanço.

Impressiona saber que até o maior poeta da nossa língua teve dias em que nem as musas atenderam o chamamento. Porque entre a glória e o rascunho há apenas cinco horas — e um poeta a tentar o impossível.

 

06
Jun25

Drunke v. Husk

Crónica de um Ego-Naufrágio

Relato não autorizado de Drunke City, onde o disparate é lei e a realidade foi arquivada.

 

 

Na república alternativa de Drunke City, onde a lógica foi deportada e o ridículo governa por decreto diário, dois egos em rota de colisão disputam o título de Messias da Desordem Global.

De um lado, Ronald Drunke, presidente vitalício, orador compulsivo e devoto do spray capilar. Do outro, Zylon Husk, magnata intergaláctico, inventor de problemas e profeta do capitalismo de foguetão.

O que começou como uma aliança de conveniência — entre jantares protocolares e promessas de colonizar Marte com isenção fiscal — descambou, como sempre, em insultos públicos e disputas de audiência.

Esta semana, Drunke irrompeu no seu canal privado, Truthology, com o fervor de um tele-evangelista em crise de vaidade ferida:

“Husk ficou maluco! Um traidor da economia divina! E usa gravatas de poliéster como se fossem herança cultural!”

Husk, fiel à sua tradição de sarcasmo algoritmo-dependente, respondeu com uma sondagem na sua rede social, perguntando se Drunke deveria ser banido da realidade — as opções eram simples: “Banir Drunke da realidade” ou “Enviá-lo num foguetão para o exílio espacial”. A esmagadora maioria escolheu o silêncio eterno das estrelas.

A consequência foi previsível: as ações da SpaceHex caíram a pique, a Testa suspendeu os seus automóveis voadores e as criptomoedas… choraram em silêncio.

Entretanto, o pequeno X — filho de Husk e neto espiritual do índice Nasdaq — foi visto, na Sala Ovoide, a jogar xadrez contra si próprio… e a perder, enquanto os conselheiros de Drunke discutiam a forma correta de redefinir a palavra “facto”.

Entre os conselheiros, destacava-se Karmina Levix, Secretária de Fervor e Transmissão Moral, sempre com os microfones prontos e a maquilhagem imune à coerência. Leu, com voz sintética e entusiasmo programado, o comunicado oficial:

“Tudo decorre conforme previsto no plano que não pode ser revelado. Continuem a aplaudir.”

O povo obedeceu. Durante 37 minutos.

 

Como tornar tudo ainda pior

Como se o delírio ainda tivesse combustível, Husk anunciou a fundação do Partido da Singularidade Cómica, com uma doutrina clara:

“Se a realidade dói, reinventa-te como episódio de podcast.

A proposta já conta com 12 milhões de seguidores, três slogans contraditórios e um hino composto inteiramente por notificações de smartphone, roncos sintéticos e um excerto da Constituição recitado ao contrário.

 

Fim do episódio — Até à próxima crise

Em Drunke City, onde as câmaras nunca se desligam e o ridículo é um dever cívico, Ronald Drunke e Zylon Husk prosseguem o seu duelo de vaidades em órbita.

Dois homens que poderiam ter alcançado as estrelas. Mas preferiram mergulhar no redemoinho dourado do espetáculo permanente.

Porque em Drunke City, a lógica foi exilada, a verdade convertida em entretenimento e o pensamento crítico declarado inimigo da audiência. A verdade foi ao espaço… e o bom senso ficou preso na alfândega.

 

30
Mai25

A Fila como Património Imaterial

fila.jpg

Nos EUA, o governo anunciou recentemente restrições de entrada de estrangeiros que “minem os direitos dos americanos”, sobretudo no que toca à liberdade de expressão — incluindo o direito sagrado de partilhar desinformação nas redes sociais sem moderação por parte de outros governos, seja na América Latina, na Europa ou noutro lugar.

Em Portugal, por outro lado, a ameaça veio de Matthew Prince, CEO da Cloudflare, que considerou o país “não sério”, lamentou a “burocracia sufocante” e teve um ataque de caspa no aeródromo de Tires ao ser confrontado com o ultrajante pedido de rastreamento da sua bagagem.

 

 

Perante tamanha afronta, há sinais de que o futuro Governo poderá vir a considerar responder, sob a forma de um pacote de medidas destinadas a proteger os pilares fundamentais do modo de vida nacional: a paciência resignada, a burocracia contemplativa e a fila como rito de iniciação cívica.

“Nós somos um país calmo, paciente e eternamente em obras”, declarou a futura Ministra da Paciência e Assuntos Lentos, Maria da Luz Morna. “Essa é a nossa maneira de viver, um direito inato que estrangeiros, por mais bilionários e impacientes que sejam, não têm autoridade para menosprezar.”

 

Lista de vigilância de VIPs emocionalmente instáveis

Entre as novas medidas está a criação da “Lista de vigilância de visitantes VIP”, que incluirá qualquer cidadão estrangeiro que:

- Demonstre impaciência em filas com menos de duas horas;

- Grite em espaços fechados com mais de uma impressora avariada;

- Use, em repartições públicas, expressões como “Nos EUA isto não acontecia” .

Estes indivíduos poderão ser obrigados a frequentar workshops, entre eles “Como preencher formulários da Segurança Social sem perder a vontade de viver” ou “Meditação guiada ao som das obras do Metro”. 

Segundo o provável Secretário de Estado da Cortesia Inútil, Dr. Norberto Firmeza:

“Nós estamos a proteger o país — e o próprio visitante. Ninguém enfrenta o IMT ou o aeroporto Humberto Delgado sem preparação espiritual. É como ir a Fátima de joelhos: exige fé, resistência e um comprovativo de morada.”

 

Medidas populares

A reação da população imigrante foi entusiástica. Um inquérito à porta do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras revelou que 93% dos utentes concordam que “se eu tenho que esperar sete horas com senha B127, ele também deve esperar”. Os restantes 7% estavam a tentar descobrir onde tirar uma fotocópia da certidão de nascimento.

Também está em estudo um “Visto de contenção emocional”, com validade de 72 horas, destinado a visitantes com histórico de stress administrativo. Esse visto incluirá acesso limitado a zonas de alta frustração — como repartições fiscais, estações dos CTT e balcões de atendimento com um post-it no vidro a dizer “Já volto.”

 

Tradição é para respeitar

Nas palavras da designada Ministra da Paciência:

“A nossa burocracia não é um erro do sistema. É o sistema. Quem não a respeita, que vá viver para um sítio onde tudo funciona — se tiver habilidade para preencher os formulários.”

Portugal não quer dificultar a vida aos estrangeiros. Apenas garantir que, antes de gritarem com um funcionário público, eles compreendam o que significa ser português: esperar em silêncio, suspirar com dignidade e celebrar cada carimbo como uma pequena vitória sobre o absurdo.

Porque a fila, em Portugal, não é apenas uma espera.
É uma escola.
É um destino.
É património imaterial.

 

26
Mai25

Crónica de um Saque Anunciado

Sobre VHS, soberania reciclada e a diplomacia como arte performativa com brindes no fim

Ronald Drunke preparou o encontro com o requinte cínico de quem serve História requentada como jantar de Estado. O alvo: Luís Monotone, primeiro-ministro fluente na arte de evitar o compromisso, enviado a Drunke City DC para “reforçar laços transatlânticos” e, se possível, evitar a aplicação da tarifa de 500% à exportação de mexilhão atlântico e túbaros de porco para a Grande Amérika.

 

 

Na Sala Ovoide, sob lustres pesados e entre cadeirões imponentes, o Presidente mandou apagar as luzes. Uma tela desceu com a solenidade de uma aula do 2.º ciclo. No ecrã surgiu um registo tremelicante em VHS — o passado a preto e branco, tingido de vermelho por zelo digital. Ruídos de megafone. Depois, a gravação explodiu:

— O capitalismo apodrece como carne ao sol. Mas o povo levanta-se — não pede, ocupa!

Um revolucionário de bigode e patilhas longas, camisa aos quadrados, berrava com convicção embebida em vinagre ideológico:

— Os lacaios do imperialismo saqueiam o planeta numa disputa cega.

Monotone empalideceu. Tentou sorrir, mas o suor revelou o embaraço de quem estava a ser colado, por pura má-fé, a um passado que não era o seu.

O vídeo saltou para uma cena recente: uma arruada. Alguém de fato escuro, com a gola do casaco a boiar bem acima do colarinho da camisa — o mesmo visual de Monotone naquele momento. O discurso desdobrava-se numa frase carregada de intenção e leve de sentido.

— Ãontem foi ãotem. Hoijze, nósz olhamosz… nósz olhamosz para cada criançza que nasze…

Nesse instante, o sistema de tradução automática — protótipo da Zylon Husk 3000™, calibrado com uma base de dados etimológica caótica e sotaque texano — entrou em ação:

Yesturday was the pastest. Today, we… we lookz at each baby that bornifies…

Drunke fixou o ecrã. Depois olhou para Monotone. A pausa foi curta — nem precisava de mais.

Recognize anyone? — perguntou. — So… is this your Minister of Philosophy?

Virou-se para JD Convex, que já abria a pasta com o memorando.

Give us Madeira — pediu, com a boquinha ensaiada de quem pede pouco e leva tudo. — And maybe the Azores. And those… how you say? Berlengas?

Monotone ainda tentou resgatar a compostura, explicando, com sotaque polido da Linha:

— Nós olhamos para cada cidadão com o compromisso de lhe proporcionar…

Drunke levantou a mão. A frase morreu. Tal como a soberania.

JD Convex pousou o “Memorando de Partilha Geoestratégica” à frente dele. Tanto quanto se sabe, Monotone anuiu. Uma caneta grossa terá confirmado.

Foi conduzido até à porta, com um sorriso amarelo e um saco de recuerdos: boné, autocolante e um folheto satírico, todos com frases sobre amizade, parcerias e maoismo gourmet.

À saída, Monotone deteve-se por um instante. Depois, baixou os olhos para o conteúdo do saco e murmurou, quase só para si:

— Não era isto que nós sonhámos.

Drunke compôs um sorriso postiço antes de declarar, sem pressa:

We’ll keep the islands safe.


Para que não digam que ninguém avisou: 🎵 Zeca Afonso — “Os Vampiros” (Vimeo)

 

05
Mai25

À Procura da Consciência no Cérebro de Ronald Drunke

Há mais dúvidas do que certezas sobre a localização da consciência — mas registam-se, agora, avanços.

 

 

Durante décadas, a neurociência tem-se empenhado em localizar a consciência no cérebro humano — com a ajuda da ressonância magnética, da filosofia da mente e, mais recentemente, de várias doses de resignação epistemológica. No entanto, nenhum caso se revelou tão enigmático como o de Ronald Drunke, presidente dos Estados Iluminados da Grande Amerika e entusiasta do uso criativo da linguagem e de mecanismos com consequências irreversíveis.

Descrito pelos seus apoiantes como “uma lenda viva da liberdade bem barbeada” e pelos cientistas como “material de pós-graduação em neuroestranheza”, Drunke tornou-se o epicentro de uma nova vaga de investigações sobre a localização — ou a possível ausência — da consciência crítica em figuras de poder.

A investigação concentrou-se inicialmente em áreas cerebrais ligadas à tomada de decisões morais. O córtex pré-frontal ventromedial, associado à empatia e à culpa, revelou um nível de atividade que alguns descreveram como “estável... tal como a consciência de um espelho”. O córtex orbitofrontal, responsável por avaliar consequências sociais, acusou picos de resposta apenas perante palavras como “bónus”, “aplauso” e “luxo fiscal”.

Já a amígdala, que processa medo e aversão, reagiu de forma explosiva ao termo “crise climática”. Um técnico de laboratório relatou que, ao ouvir “cooperação multilateral”, o cérebro de Drunke libertou uma onda de adrenalina comparável à de um touro a ouvir Beethoven.

Segundo a teoria do duplo processo de Joshua Greene, as decisões morais humanas oscilam entre respostas emocionais rápidas e raciocínio deliberado. No cérebro de Drunke, os dois sistemas parecem funcionar em turnos separados, sem contacto uns com os outros — uma espécie de “divórcio neurológico com guarda partilhada da impulsividade”.

Face à complexidade do caso, os cientistas recorreram à psicologia política. Foi identificado um perfil caracterizado por baixa amabilidade, elevada necessidade de poder e uma autoconfiança que, segundo os dados, “dispensa realidade de suporte”. O seu estilo de liderança oscila entre o autocrático com efeitos especiais e o transformacional — mas só do próprio ego.

A equipa contou com a colaboração involuntária do vice, o cripticamente carismático J.D. Convex, e do Ministro para Todo o Serviço, Hylon Husk — homem que gere simultaneamente os assuntos da tecnologia, das finanças, das comunicações e da cozinha presidencial por “pragmatismo disruptivo”.

Em paralelo, investigadores de literatura e ficção científica sugerem que o caso Drunke se aproxima mais de um episódio de Os Simpsons dirigido por Tarkovsky do que de qualquer tratado de liderança.

Apesar das incertezas, os cientistas não desistem. Continuam a explorar hipóteses com imagens cerebrais, algoritmos de análise comportamental e, como último recurso, sessões de neuroespiritismo. Porque, se a consciência de Ronald Drunke existir, estará algures entre o córtex e a sala ovóide — para onde a razão é raramente convocada.

CORTEX.jpg

01
Mai25

A Chamada dos Desalinhados

Uma comédia (quase) diplomática entre dois blocos que nunca foram alinhados

 

[Excerto exclusivo intercetado por meios altamente duvidosos.]

🎵
Num país onde o tino escapou pela fronteira,
Kid Tock dá o ritmo, agita a bandeira.
Com tarifas ao rubro, ego no refrão,
Ronald Drunke comanda feito pavão.
🎵

 

[O telefone toca. Do lado da Grande Amérika, ouve-se uma versão trap da Marcha Oficial, composta por Kid Tock.]

RONALD DRUNKE (voz de quem já misturou Red Bull, presunção e água benta):
Xixi! Como está o melhor comunista do mercado? Já mandei taxar a paciência, vai render milhões! Preparado para uma nova ordem mundial, em que eu decido tudo e o resto aplaude?

XIXI PING (voz tranquila, como quem medita rodeado de servidores Huawei):
Presidente Drunke. Os seus aliados ligaram. Parece que confundiu “festa surpresa” com “ataque nuclear económico”. Destruir o sistema económico ocidental… outra vez. É como ver alguém incendiar a própria casa para matar um mosquito.

DRUNKE:
Escusas de me agradecer, buddy. Finalmente alguém teve coragem de travar esta palhaçada do “comércio livre”. Acabaram-se as férias pagas para europeus e os brinquedos de plástico que explodem.

PING:
Interessante teoria. Vocês mandaram as fábricas embora e importaram dívida… Agora que o jogo corre mal, atiram o tabuleiro ao chão. Um clássico grande amerikano: perder e declarar vitória.

DRUNKE:
A questão aqui é soberania, buddy. Soberania e tarifas. Grandes tarifas. As maiores. Até o Kim Kaboom ligou a perguntar como é que se faz.

PING:
Estou certo de que os aliados estão encantados com a perspetiva de serem tratados como inimigos. Deve ser… revigorante, especialmente para os da NATO.

DRUNKE:
A NATO? É aquele clube europeu — eu finjo que pago quotas e eles fingem que treinam para guerras de faz-de-conta. Aliás, estou a pensar criar a minha própria aliança: The Enlightened States of Great Me.

PING:
Magnífico. Um clube ideal para jantares silenciosos.

DRUNKE:
Não preciso de jantar com ninguém. Tenho o Hylon Husk, que está a construir uma internet nova, uma moeda nova… e, se não me engano, um novo planeta para fugir aos impostos.

[Silêncio breve. O som de um ventilador lento. Ao fundo, a voz amplificada de Hylon Husk irrompe pela Sala Ovoide, num tom meio distraído, meio messiânico]:

"Se tudo correr bem, até ao fim do dia lançamos a Constelação Fiscal — 42 satélites que declaram IRS automaticamente e fazem elogios ao presidente em cinco línguas."

PING:
Pelo menos não lhe falta ambição. Só falta agora construir uma realidade alternativa… onde os seus planos resultem e ninguém lhe contradiga o horóscopo.

[A linha cai. Alegadamente, porque alguém ligou o micro-ondas na Sala Ovoide.]

 

Fontes próximas garantem que, após a chamada, Drunke lançou uma linha de T-shirts com o slogan"Fez-se História (again!)", agora disponível em tamanhos XXL e geoestratégico.

O vice J.D. Convex afirmou que “tudo corre segundo os planos, embora ainda não os tenha lido”.

Hylon Husk, visivelmente entusiasmado, surgiu ao fundo de uma live stream a testar um megafone quântico pessoal. Segundo testemunhas, o aparelho só transmite autoelogios, previsões financeiras falhadas e citações descontextualizadas de Nietzsche.

 

Telefone Vermelho.jpg

Prova histórica de que a diplomacia, no fundo, é uma reunião de condomínio com arsenal nuclear

 

28
Abr25

O Discurso de Ronald Drunke

Sala Ovoide, Drunke City (DC). Ao fundo, colunas douradas de brilho quase ofuscante e bandeiras gigantes, pesadas, dos Enlightened States of Great Amerika, tremulando ao ritmo de um vento mecânico e disciplinado.

 

 

Ronald Drunke está sentado numa cadeira de espaldar alto, com estofo vermelho-sangue enlaçado por talha dourada em espirais quase barrocas. À sua frente, sobre uma mesa ornamentada com relâmpagos recortados em folha de ouro puro, repousa um diploma de pergaminho espesso, à espera da histórica assinatura presidencial.

As câmaras da Patriot Channel transmitem em direto para todo o mundo conhecido. A imprensa tradicional fora despedida; ficaram influencers devotos, funcionários e cidadãos modelo, todos imóveis e silenciosos, numa coreografia de reverência estudada.

Drunke ajeita o microfone sem se levantar, com movimentos lentos, deliberados e a solenidade de um monarca.

E então fala.

 

“Hoje é um dia absolutamente histórico. Histórico! Um daqueles dias que vamos contar aos nossos filhos, aos nossos netos, aos nossos cães, a toda a gente que nos ouvir, porque nunca houve nada assim. Nunca, guys!

Estamos a resolver algo que precisa ser resolvido — algo tão importante que, sinceramente, vai mudar tudo, para melhor. E quando digo “mudar tudo”, estou a falar de uma mudança que todos vão sentir, folks.

Mas antes de mudar o curso da nossa História, preciso de partilhar algo pessoal. Algo que vai fazer todo o sentido.

Outro dia, estava a tomar um duche – um duche patético, miserável, sem força, sem alegria. E sabem o que senti? Senti vergonha. Vergonha! E não era só eu. Milhões de great amerikans, milhões, passavam pela mesma humilhação todos os dias! Porquê? Por culpa deles. Por culpa dos fracos, dos vendidos, guys! Gente incompetente. Administrações fracassadas! Cortaram-nos a água. Cortaram-nos a grandeza.

E quem sofreu? Todos, incluindo o vosso presidente. E este cabelo! Este cabelo maravilhoso (muita gente diz ser o mais bonito do mundo – não sou eu que digo, toda a gente diz) ficou a perder. Sabem o que é tentar pentear-se com água a correr miseravelmente? É humilhante, guys. Humilhante!

A burocracia hidráulica queria chamar-lhe – preparem-se – Reposição da Pressão de Água Aceitável em Chuveiros. Ridículo! Triste! Fraco! Por isso mandámos esses burocratas para casa! Aqui só fica quem acredita na verdadeira potência dos nossos duches! Eu decidi chamar-lhe como deve ser: a Lei da Liberdade do Duche em Great Amerika! E vai ser linda. Vai ser… potente. Vai ser potente, folks!

Por isso, hoje, com enorme orgulho, assino a histórica Lei da Liberdade do Duche em Great Amerika. Uma vitória para todos os verdadeiros great amerikans. Uma vitória para todas as cabeças honradas deste grande país!

A partir de hoje, vamos ter duches como deve ser: potentes, fortes, livres.

Porque é assim que funciona, ok? Mais pressão de água – mais felicidade. Mais felicidade – mais amor à pátria. E mais amor à pátria, guys... significa varrer o comunismo! Até dos nossos duches, onde começa a verdadeira guerra pela liberdade!

It’s simple. It’s beautiful. It’s Great Amerika! Este é o melhor deal da história da água: água livre, cabelo impecável, nação invencível! Deus abençoe a Great Amerika. Deus abençoe a vitória da água. Deus abençoe este glorioso adorno capilar, símbolo da nossa liberdade, guys!”

 

Com gesto pesado e cerimonioso, Ronald Drunke desenha a sua assinatura no diploma. Sem se levantar, inclina-se para o vice J.D. Convex — que, de pé à sua direita e um passo atrás, o observa respeitosamente — e murmura, num tom grave e conspirativo: "Com esta caneta, liberto as águas de Great Amerika!"

Em seguida, faz um leve aceno de cabeça. De imediato, os sprinklers dourados da Sala Ovoide são ativados, lançando finos jatos cintilantes sobre a assistência.

Alguns aplaudem, ensopados, sorrindo com devoção enquanto limpam os olhos. Outros deixam-se banhar de braços erguidos, como fiéis extáticos numa cerimónia sagrada.

Drunke permanece imóvel, de expressão grave, ajeitando o cabelo com um gesto mecânico e solene.

A transmissão encerra com a bandeira da Grande Amerika tremulando em câmara lenta, entre gotas douradas que brilham como lágrimas – de vitória ou de desespero.

 

Nota:

Em 9 de abril de 2025, num país próximo dos Enlightened States of Great Amerika, foi assinada a ordem executiva Maintaining Acceptable Water Pressure in Showerheads, eliminando regulamentações restritivas sobre o uso da água no duche.

 

24
Abr25

O Delírio das Estrelas

 

Sempre se disse que os marcianos eram verdes. Nunca se soube porquê. 

É uma daquelas verdades absolutas, aprendidas na escola primária, para nunca mais serem questionadas.

Poderá hoje duvidar-se desta certeza.

Ir a Marte...

(…) amar-te, assim, perdidamente
É seres alma, e sangue, e vida em mim

(Florbela Espanca, 1931)

 

Subitamente, no horário nobre

A primeira vez em que se falou em “libertar Marte” foi num tweet do presidente Ronald Drunke:

- Vamos levar liberdade a esse planeta de comunistas enferrujados.

Ora tudo aquilo que começa num tweet transforma-se rapidamente numa cerimónia com cobertura em tempo real.

Às 20h00 exatas de Drunke City (D.C.), a transmissão da Fox News é interrompida. Drunke, com o olhar aborrecido de quem acredita que tem de fundar uma nova era galáctica à hora de jantar, assina a Ordem Executiva 422-Z: Reclassificação do Solo Marciano para Fins de Desenvolvimento Residencial Patriótico. A caneta é preta, grande, absurda.

Entra em cena Zylon Husk, Ministro da Inovação e do Caos Governativo.

Com um gesto, ativa um holograma de Marte, em rotação, detalhado, legendado. As crateras brilham em vermelho e dourado. Uma voz sintética anuncia: “Zonas de viabilidade habitacional elevada.”

Mare Acidalium pisca. O símbolo de construção surge com o selo da Grande Amerika.

Drunke levanta-se e declara:

- Vamos colocar a bandeira da Great Amerika em Marte. A seguir, construiremos a Drunke Dune Tower, em Mare Acidalium, para resolver, de forma definitiva e espetacular, a crise da habitação interplanetária.

O holograma mostra a futura torre como se estivesse já no presente. A bandeira agita-se, animada por efeitos especiais. Marte é oficialmente um mercado imobiliário.

 

Exportar liberdade, taxar a ferrugem

Mas como poderá Ronald Drunk colocar a bandeira da Grande Amerika em Marte?

Muito simples: repetindo até à exaustão que 96% dos marcianos aspiram, acima de tudo, a ter um passaporte da Great Amerika.

Detalhe irrelevante: ninguém sabe quem fez a sondagem.

Enquanto isto, para debilitar a economia marciana, anuncia a modesta taxa aduaneira de 575% sobre todos os produtos vindos do planeta vermelho.

A economia de Marte baseada numa robusta exportação de óxido de ferro, também conhecido por ferrugem, treme com a ameaça de tarifas aduaneiras. Os marcianos, que desfrutam de um razoável equilíbrio económico, começam a sentir imediatamente os efeitos devastadores desta nova política comercial interplanetária.

Com a chegada iminente de visitantes, os habitantes locais, perplexos e talvez ligeiramente irritados com as medidas protecionistas extremas, estão divididos: uns veem nisto a oportunidade perfeita de abrir hotéis de luxo nas planícies marcianas. So beautiful! Outros, suspeitando dos terráqueos desde a transmissão das primeiras temporadas de reality shows da Grande Amerika, erguem cartazes de protesto.

 

Isabella Marsica, conhecida como Regina Rubra

Um certo dia, à beira da cratera de Pavor Primevo, Isabella Marsica caminhava entre os seus. Estava rodeada de aias e de criaturas magras, de olhos fundos, consumidas pela poeira e pela fome.

O silêncio em redor era de outro tempo. Como se até o vento soubesse esperar.

Zylon Husk, recém-chegado, envolto num traje metálico reluzente, aproximou-se com olhar desconfiado.

What hast thou there? Que tendes vós aí? — perguntou ele, empunhando o tradutor universal como quem segura um cetro.

Isabella fitou-o com uma calma ancestral e respondeu:

— São cravos, senhor. São cravos.

Do seu colo caíram então cravos vermelhos. Vivos e húmidos, cheirando a primavera.

E os marcianos choraram copiosamente, como quem reencontra na memória o perfume esquecido das revoluções feitas com flores.

 

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 Uma selfie descuidada tirada com um smartphone: Husk em Marte com um alienígena (do Arquivo Histórico da Grande Amerika, imagem 14B)

 

21
Abr25

Dançar com o Mundo

Numa sala de cinema improvisada, passa a velha cena de um homem fardado a ensaiar uma delicada coreografia. Farda cintada, gesto poético. O mundo gira suavemente nas suas mãos, como uma frágil profecia visual.

Em êxtase, Adenoid Hynkel, ditador da Tosmânia, brinca com o globo terrestre como se fosse seu. Uma dança absurda entre o poder e o delírio. Não é um sketch. É um epitáfio.

No mundo real, o globo não é de borracha, mas o gesto mantém-se. A dança também. Em Mar-a-Charco, o delírio tem palco próprio.

 

Excerto de O Grande Ditador, Charlie Chaplin (1940)

 

 

A celebração

Mar-a-Charco, residência presidencial cujo nome carrega a decadência com elegância tropical, acolhe a festa dos primeiros 90 dias da administração Drunke.

O dress code: patriótico q.b., socialmente apresentável. À entrada, os convidados recebem um kit oficial — boné, laço de pontas longas e três balões vermelhos já insuflados, prontos a ser atados ao dedo mindinho.

Ronald Drunke — magnata egocêntrico que vê o mundo como um reality show em que só ele controla o microfone, o espelho e o botão vermelho — preside agora aos Enlightened States of Great Amerika. Uma nação gigante, obcecada por negócios e por uma grandeza perdida — ambos redesenhados diariamente ao sabor do humor presidencial.

Já foi Supreme States of Great America. Depois Enlightened States of Great America. Até que o “c” foi oficialmente cancelado — sinal da nova era: mais forte, mais direta, mais disléxica por decreto.

Nos ecrãs gigantes, Vlador Putianov, líder vitalício do Putianistão, dirige algumas palavras ao seu homólogo de Great Amerika. A voz é gélida, a frase solene, pesada como um mapa antigo.

— As fronteiras do futuro não se desenham sozinhas.

A assistência aplaude com entusiasmo — ou talvez por reflexo. É difícil distinguir.

Entre os convidados, a lendária primeira-ministra Bonita Melonini. Drunke aproxima-se e afirma, em tom de cumplicidade:

— A amizade entre Great Amerika e o seu país é antiga. Tremenda. Desde o Império Romano. Uma amizade muito bonita.

Silêncio respeitoso.

 

O banquete

No banquete há hot dogs, hambúrgueres, BBQ, fried chicken. Há tacos e burritos vindos do México. Há gelo da Gronelândia para as Cokes gigantes.

Ausentes: whisky canadiano, queijos europeus e chocolate do Dubai. Todos afastados pelas guerras comerciais e pela nova doutrina: “Ou és nosso cliente, ou és nosso inimigo.”

O sol bate em ângulos bíblicos sobre palmeiras de plástico e fachadas douradas.

 

O trio

Pede-se silêncio. Apresenta-se o improvável trio da política contemporânea.

Primeiro, J.D. Convex: discreto, sorridente, vice por vocação, sempre com o ar atento de quem presta contas até quando respira. Mas há algo no seu sorriso que dura meio segundo a mais. Como se, por trás da face obediente, morasse um grito com decoro. Palmas educadas.

Zylon Husk entra aos saltos — guru da pós-verdade, foguetólatra entusiasta, convencido de que a realidade se resume a uma opinião mal formatada. A assistência, já habituada a não perceber coisa nenhuma, aplaude de pé.

— And now, ladies and gentlemen... the one, the only... President Ronald Drunke!

Mar-a-Charco estremece. Drunke agarra o microfone com solenidade mitológica. Aponta o dedo indicador aos presentes:

— Noventa dias tremendos. Fizemos mais do que qualquer administração na História da Grande Amerika. A História agradece. Vocês sabem muito bem do que estou a falar. Lixámos todos os que ganham dinheiro à nossa custa. Os nossos aliados fingidos. Mas os nossos verdadeiros amigos estão aqui. Pessoas belas. Muito belas...

Cada palavra faz tremer as bolsas — até a de Lisboa, que treme por simpatia.

— E os próximos 90 dias? Tremendamente melhores. Obrigado. Muito obrigado.

 

Epílogo

Atrás, Convex comenta discretamente com um influencer em ascensão:

— Eu diria mesmo mais: tremendamente melhores.

Husk, o olhar disperso, acelerado por cafés e psicoestimulantes, solta os seus balões. Vermelhos, premonitoriamente da cor do quarto planeta. Marte, claro.

Uma pequena multidão de convidados liberta também balões vermelhos, salpicando o céu com uma euforia de borracha.

E os balões sobem, sobem — vaidosos, delirantes, frágeis. Até rebentarem.

 

Sobre o blog

No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

Sobre mim

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Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

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