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Cidade sem Tino

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade sem Tino

Sobre o blog

No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

Sobre mim

.
Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

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Jun24

Bairros Comerciais Digitais

Bairro Comercial Digital.jpg

Transformar o centro urbano de Coimbra num condomínio comercial de lojas modernas e com forte presença digital é o objetivo de um projeto que vai ser apresentado em breve. Antes da divulgação oficial, assiste ao cidadão comum o direito à imaginação. Cenário em que importa perguntar: estar-se-á realmente a transformar o espaço urbano ou a esconder as suas imperfeições sob a ilusão digital? São ainda os arquitetos e os operários que moldam o futuro das cidades, ou os informáticos que tecem uma nova realidade? Virtual.

 

1

Convém contextualizar: o parque edificado, marcado pelas rugas do tempo, reflete claramente a evolução das necessidades e desnecessidades urbanas. Os andares onde outrora se situavam prestigiados escritórios de advocacia e consultórios médicos estão hoje devolutos ou acolhem alguma habitação. Nestes prédios residem imigrantes, em sótãos sobrelotados, enquanto estudantes vivem em estúdios que receberam uma nova camada de tinta.

2

Percorre-se as ruas, encontra-se um ambiente de lojas desgastadas e caóticas, cujos empregados já conheceram dias de maior atividade e entusiasmo. Porém, com alguns retoques de Photoshop e um upload habilidoso na internet, estas mesmas lojas logo emergem como entidades novinhas em folha, perfeitamente operacionais e competitivas, tornadas verdadeiras organizações de sucesso.

3

Imaginem só: os utilizadores do centro urbano de Coimbra a nunca mais escorregarem na íngreme rampa de Santa Cruz. A não sofrerem com o calor do verão nem com a chuva do inverno na animada Ferreira Borges. A não terem de tatear o caminho quando a luz faltar na "Rua Visconde da mesma”, tal como rezava um título da imprensa de antanho. Imaginem só as pessoas desobrigadas de aturar cantadores desafinados defronte das esplanadas, e de ouvir, na porta de Almedina, os fados de sempre, em alto volume, de manhã até à noite. É que o fado não é para ser sorvido à colher de sopa.

No hell below us
Above us, only sky

You may say I'm a dreamer
But I'm not the only ooooone

4

O novo centro urbano é uma espécie de evangelho apócrifo (sendo certo que este não é inimigo dos canónicos). Ou melhor, o centro destinado a ser percebido pela maioria dos seus utilizadores é talvez uma realidade simulada do tipo Matrix.

As lojas orientais e de bugigangas de cortiça permanecem, mas só no centro urbano real. No centro urbano digital, transformam-se em espaços de comércio e serviços gourmet que oferecem novos ambientes de experiência. Saem tão favorecidas no retrato que até dá gosto vê-las!

Ironicamente, os utilizadores não precisam de se deslocar ao centro urbano, em pessoa. Futricas, doutores e mesmo estrangeiros, permanecendo confortavelmente em casa ou no hotel, podem captar o espírito daquele lugar, tanto na riqueza física quanto na perceção e emoções.

5

Todos os colaboradores das organizações sediadas no centro urbano de Coimbra ganham uma dentadura branca que, através do ecrã dos computadores, lhes confere um sorriso perfeito e reluzente – a dentadura do proletariado.

A simpática equipa lubrifica os canais de distribuição pelos quais os produtos e serviços chegam à porta dos estimados clientes: através da Uber Eats, da Glovo e do carteiro, que deixa avisos para a recolha das encomendas em postos de correio pequenos, mas agradáveis. As estações de correio já não são meras estações; agora, são lojas de marca.

6

É neste ambiente de satisfação e segurança que se constroem catálogos de pertenças e compromissos; a isso chama-se o espírito do lugar.

Há ideias com poder de transformação que geram momentos muitíssimo luminosos. Convém, por isso, nunca esquecer, além das lentes de computador, os óculos de sol!

 

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No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
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