Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cidade sem Tino

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade sem Tino

Sobre o blog

No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

Sobre mim

.
Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
05
Mai24

Ruralidade e Lentidão

Rural.jpg

Exploram-se aqui tensões entre o rural e o urbano, e, bem assim, o modo como essas tensões se manifestam nas práticas diárias e na adaptação cultural de quem migra entre estes dois mundos.

 

Há quinze anos, pela primeira vez na História, cinquenta por cento da população mundial passou a viver em cidades. Uma projeção das Nações Unidas refere que, em 2050, setenta por cento dos habitantes do planeta viverá em zonas urbanas – o que equivale a 6,7 mil milhões de pessoas. Este fenómeno de rápida concentração não só altera o cenário demográfico, mas também intensifica a procura e a pressão sobre as infraestruturas urbanas.

A cidade pode ser vista como um conjunto de redes: as vias, o abastecimento de água, a distribuição de energia… Sobre estas redes assentam edifícios e pessoas. E é neste espaço intrincado que se exercem as diversas atividades humanas: a atividade económica, a habitação, os serviços públicos, o lazer e a mobilidade. As redes e atividades refletem a complexidade das dinâmicas humanas.

A cidade é sobretudo o destino daqueles que fugiram da dureza do trabalho no campo.

Quem permanece no meio rural, conhece-o bem. Na cidade, usa-se o relógio; no campo, tem-se todo o tempo do mundo. Quem, no seu vagar, com um acervo de conhecimento empírico do ciclo do sol e do ciclo da água, poderá fazer melhor caracterização do lugar onde vive e trabalha? As diferenças entre campo e cidade, transcendendo contrastes físicos, refletem disparidades significativas no ritmo de vida e nas prioridades.

As pessoas do meio rural que se aproximam da cidade não raro perdem as referências. Na vertigem das ruas e avenidas, sem tempo para assimilar a nova complexidade, os recém-chegados do campo frequentemente injetam hábitos rurais no ambiente urbano, recorrendo a práticas que são reminiscências das suas origens.  Podem viver em garagens transformadas em habitações ou, quando possuem os meios necessários, construir enormes casas entaladas na selva de betão. Em vez dos balcões das Beiras, sabiamente virados ao sol e ao sul, instalam marquises de alumínio orientadas para onde der mais jeito, no meio da frieza urbana.

A transferência de uma cultura do ambiente rural para o contexto urbano transporta consigo a lembrança de hábitos de merceeiro, em que o entendimento de contas se limitava a lidar com fiados. Em pastas de arquivo com argolas os recém-chegados juntam, para toda a vida, os registos dos seus parcos negócios; e, debaixo do braço, transportam pastas idênticas para as reuniões do condomínio, de que, inesperadamente, se tornam administradores. 

 

30
Abr24

Minimalismos

Casal beijando-se.jpg

Na cidade, onde o ruído constante das notícias reduz complexidades a meras manchetes, emerge uma pequena história de intromissão.

A Baixinha medieval, com a sua aparência enganosamente simples, é na verdade um labirinto de esquinas que narram episódios diversos, refletindo o pulsar de um burgo cuja aparente naturalidade esconde um emaranhado de desorientações amplificadas pelo enviesamento mediático.

 

Entre murmúrios e meias-verdades, um jornal abandonado numa mesa de café capta a atenção, revelando uma ocorrência intrigante:

Últimas notícias: Numa operação coordenada, elementos da polícia detiveram ontem na Baixinha um indivíduo do sexo masculino, alegadamente por tráfico.

Esta ação coordenada das autoridades, de notável eficácia, traz ao de cima uma linguagem que merece análise mais profunda.

Acontece que, na gíria das forças policiais, os seus membros são designados por “elementos”, ao passo que os membros da sociedade civil, incluindo os alegados traficantes, são referidos como “indivíduos”. Tal distinção, que não exclui a possibilidade de qualquer grupo conter elementos envolvidos no tráfico, destaca o modo como as palavras podem moldar a perceção de uma narrativa sobre segurança pública.

Na cidade antiga, onde as ruas se entrelaçam em segredos, o mistério sobre a natureza do alegado tráfico permanece. Será tráfico de influências? De armas? Quiçá de animais selvagens? De órgãos? Ou ainda de droga? Ao fim e ao cabo, o indivíduo detido pela polícia é um suposto traficante. Contudo, nas vielas apenas perdura um eco genérico e aberto das ações alegadamente praticadas...

Vale a pena apontar um pormenor da notícia que poderia passar ignorado se não carregasse um tom discriminatório. Para quem lê sem intuitos voyeuristas, que importância tem o sexo masculino do indivíduo detido? Será que as suas características físicas e genéticas, como a presença de cromossomas XY, foram consideradas no momento da detenção? Ou que apenas o estilo e a aparência foram registados pelas autoridades ou inferidos pelo jornalista? E, afinal, que diferença faz ele ser homem, caucasiano, português, muçulmano, social-democrata ou adepto do glorioso?

Estas reflexões sobre linguagem e diferenciação levantam uma questão maior: não seria o minimalismo mediático, politicamente mais correto, uma forma de evitar tais diferenciações e julgamentos problemáticos? No entanto, a busca de um minimalismo mediático politicamente correto levanta a interrogação: poderá a simplificação chegar ao ponto de roçar o absurdo?

Perante estas indagações, imagine-se então reduzir a notícia ao seu mais puro esqueleto informativo:

Numa operação coordenada, elementos da polícia detiveram ontem na Baixinha um indivíduo, alegadamente por tráfico.

Sem sexo, sem género, sem quaisquer outros pormenores – o mínimo dos mínimos.

Neste cenário, o “minimalismo” torna-se uma “arte de subtração" em que menos informação pode não significar mais clareza, mas sim o vazio informativo. É no vazio que o ridículo se cruza com a reflexão. Ao serem retiradas camadas de contexto, resta da história apenas uma cápsula sem recheio.

A ironia reside na conclusão de que, por vezes, omitir em demasia pode resultar numa mensagem depauperada, em que a ausência de detalhe conduz à esterilidade.

 

Desenho de jovem casal numa esquina da cidade, beijando-se. Conceito minimalista.

 

Sobre o blog

No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

Sobre mim

.
Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D