Arquitetura e Comunicação Social: Pós-Modernismo e Pós-Verdade
- Está a falar a sério ou a brincar?
- A sério, claro!
- Ora ainda bem, que eu não gosto de brincadeiras.
1
O pós-modernismo surgiu, em meados do século passado, como uma atitude crítica ao movimento moderno predominante. Esta atitude semeou frutos no pensamento arquitetónico, enriquecendo um discurso enraizado na história e no lugar. Não obstante ser válido como crítica, o pós-moderno falhou quase sempre na concretização – esta mais estilística do que substancial – de que resultaram abundantes pastiches desligados de qualquer contexto.
Assim como os cidadãos atentos podem ser irónicos e mordazes perante a política, também os primeiros críticos pós-modernos desafiaram as convenções do movimento moderno e do estilo internacional. No entanto, tal como a política exige responsabilidade aos seus líderes, o desenho de arquitetura precisa de autenticidade e compromisso com a envolvente e os utilizadores.
No ato da conceção, a responsabilidade e a funcionalidade não deveriam sucumbir à ironia e à experimentação lúdica.
2
Certo é que o termo pós-verdade se tornou popular no contexto do referendo do Brexit e das eleições presidenciais nos EUA em 2016, cujas campanhas foram marcadas pelo uso intensivo de notícias falsas e declarações enganosas. Desde então, a pós-verdade tornou-se tema de análise e debate, especialmente no que respeita ao seu impacto na opinião e na qualidade da democracia.
3
Tanto o pós-modernismo na arquitetura como a pós-verdade na comunicação social desde logo se distanciam da adesão a uma verdade absoluta ou objetiva. No pós-moderno, o fenómeno manifesta-se na adoção de estilos incoerentes ou desconexos, levantando a questão da autenticidade das intenções da arquitetura. Na pós-verdade, relativiza-se o tratamento dos factos, muitas vezes substituídos por narrativas alinhadas mais com crenças individuais ou coletivas do que com a própria realidade.
Assim, em ambos os campos, a verdade – ou a falta dela – torna-se um conceito flexível, e a mentira pode ser quer uma ferramenta consciente de desenho, quer um forte mecanismo de manipulação da opinião pública.