Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cidade sem Tino

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade sem Tino

Sobre o blog

No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

Sobre mim

.
Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
25
Fev25

Mármore, Nostalgia e Outras Fantasias

Presidential Actions.JPG

Logo no dia da sua tomada de posse, num gesto carregado de pompa e dramatismo, Donald Trump assinou a ordem executiva Promoting Beautiful Federal Civic Architecture. Nela, estipula-se que os edifícios públicos dos Estados Unidos devem ser belos – e que, para o serem, devem respeitar a herança regional, tradicional e clássica. Uma exigência vaga, envolta num patriotismo arquitetónico que levanta questões pertinentes.

 

 

O que é tradição num país jovem e de imigrantes?

A América é, desde a sua fundação, uma colagem de culturas, um mosaico em que a tradição não é singular. O que significa, então, respeitar a arquitetura regional e tradicional? Será a silhueta das casas vitorianas de São Francisco? Os arranha-céus reluzentes de vidro e aço que definem a modernidade americana? As igrejas coloniais de tijolo de barro da Nova Inglaterra? Ou, quem sabe, as estruturas milenares dos povos indígenas, que já dominavam o território muito antes da chegada dos europeus, mas que, aparentemente, são deixadas de fora da tradição?

A verdade é que a ordem executiva tem uma preferência clara: o neoclássico, herdeiro da arquitetura da Grécia Antiga e das ambições imperiais de Roma. Mas será que esta é a estética que define os valores culturais americanos? Ou apenas mais um exercício de nostalgia seletiva, em que a grandiosidade das colunatas mascara a falta de substância?

 

Um regresso à grandeza colonial?

Há aqui uma ironia que não passa despercebida: o neoclássico foi o estilo escolhido pelos founding fathers para dar um verniz de legitimidade ao recém-nascido governo americano – mas é, afinal, uma importação europeia, inspirada nas arquiteturas britânica e francesa do século XVIII. Hoje, numa administração que vocifera contra a globalização e o multiculturalismo, este fascínio por um estilo arquitetónico importado parece, no mínimo, contraditório. Mas talvez, para alguns, a única influência estrangeira aceitável seja aquela que chega esculpida em mármore e trajada de passado.

Não é a primeira vez que a estética passadista é instrumentalizada politicamente. Regimes autoritários sempre tiveram queda para uma arquitetura impositiva e monumentalista: Hitler e Mussolini adoravam colunas e fachadas de pedra; Estaline e Salazar preferiam ruas e praças opressivamente vastas, onde o indivíduo desaparecia perante o esplendor do Estado. Ter edifícios neoclássicos não torna um governo autoritário, mas decretar um estilo como símbolo nacional é uma estratégia típica de regimes que procuram controlar tanto a cultura quanto a política. No fundo, o gosto certo pode ser tão relevante como a ideologia certa.

 

A grandeza que não se decreta

No final das contas, a ordem executiva de Trump é mais teatro político do que necessidade real. A grande maioria dos edifícios federais já existe, e não há planos concretos para novas construções em massa. Mas a ordem executiva cumpre o seu papel: vender ao eleitorado a ilusão de que Make America Great Again pode ser traduzido, literalmente, em simetrias perfeitas e metros cúbicos de mármore.

Certo é que nem a grandeza se decreta, nem a verdadeira força da América esteve jamais na nostalgia da arquitetura. Esteve, sim, na sua capacidade de inovação, adaptação e pluralidade; não em recriar um passado idealizado que, convenhamos, nunca existiu. Se existisse, diga-se em abono da verdade, não lhe faltariam colunas caneladas, frontões esculpidos e uma cúpula imponente no topo de cada edifício público.

 

06
Ago24

Algumas Notas sobre a Bravura dos Patos

Patos.jpg

Não, "patobravura" não é um neologismo, mas sim a adequada expressão da audácia que caracteriza certos empreendedores. A série dinamarquesa "Hotel à Beira-Mar", apresentada pela RTP2, transporta-nos ao início do século XX. O Sr. Madsen, um personagem que destila ambição e desejo de ascender socialmente, demonstra um pragmatismo nos negócios feitos nas costas do Mar do Norte que poderá ter inspirado alguns promotores imobiliários portugueses.

 

São conhecidos por patos-bravos muitos dos promotores imobiliários das últimas décadas do milénio passado que buscavam o lucro fácil. Dividem-se nas subfamílias de patos muito bravos e patos-bravos mais mansos. Alguns deles voaram para o presente milénio. Os edifícios que promoveram e promovem partilham normalmente uma mesma estética que arma ao pingarelho, registada nos manuais de história da arquitetura como Estilo Patobravo ou, em inglês, Cowboy Style Construction.

O termo patobravo descreve originalmente o servente da construção civil que, deixando Tomar, onde o rio Nabão é literalmente povoado por patos, migra para Lisboa. Nesta quase metrópole, transforma-se em promotor ganancioso, espertalhão, muitas vezes sem escrúpulos, fazendo fortuna rapidamente à custa de edifícios de gosto e qualidade duvidosos. Um fenómeno explorado na obra “LX60: A Vida em Lisboa nunca mais Foi a Mesma” de J.S.Vilela e N.Mrozowski.

Nos prédios caracterizados por esse estilo, as varandas predominam e, logo após passar a “senhora vèstoria", são inevitavelmente convertidas em marquises personalizadas à vontade de cada condómino.

Tomás Taveira, defendendo o pavilhão marquisado de CR7 no prédio mais caro do país, destacou, em entrevista ao semanário “Sol”, que as pessoas transformam varandas em marquises para valorizar a sua propriedade, conquistar mais espaço ou acomodar novas necessidades familiares.

Curiosamente, foi numa modesta marquise na Travessa do Possolo que um conhecido estadista português encontrou inspiração para escrever a sua autobiografia política, publicada em dois volumosos tomos.

 

31
Mai24

Cidades Proibidas

cidade proibida.jpg

 

Imagens da Cidade Proibida revelam a sua íntima relação morfológica com a grande Pequim. Situada no coração da atual metrópole, esta imponente fortaleza materializa o centro histórico e cultural, localizado estrategicamente no eixo norte-sul da capital chinesa. O desenho urbano, alinhado com princípios do feng shui, posiciona a Cidade Proibida como núcleo de autoridade, rodeada por uma muralha e um fosso que demarcam o seu isolamento e proeminência. Desde a construção em 1420 até a abertura ao público em 1949, além da família imperial, apenas altos funcionários e  criados tiveram o privilégio de viver no seu interior. Esta exclusividade conferia ao local o caráter de símbolo do poder e do mistério do império chinês.

Há, como se sabe, muitas cidades proibidas no mundo inteiro. Istambul, que foi Bizâncio e, antes disso, Constantinopla, abriga o palácio de Topkapı, escrito assim mesmo, sem ponto no "i", uma característica da reforma do alfabeto posta em prática por Atatürk. Quem visitar esta residência, durante séculos, dos sultões otomanos deliciar-se-á com as histórias de poder e traição, com intrigas palacianas que percorriam os corredores opulentamente decorados. As salas do harém, em particular, revelam um mundo à parte, onde o esplendor arquitetónico se misturava com o drama humano, realçando o fascínio que envolve estes espaços historicamente tão exclusivos.

Geralmente as cidades proibidas são bonitas, bem tratadas, aparecem em revistas e têm uma aura de mistério. Podem não estar fechadas a sete chaves, mas há outro tipo de trancas. Encontram-se muitas zonas urbanas onde a “proibição” persiste e se intensifica, devido à conquista económica do espaço. Em São Paulo, áreas como a Paulista, a Augusta e a  Óscar Freire servem como exemplo de espaços públicos economicamente inacessíveis para muitos. São áreas em que se concentram habitação e estabelecimentos de alto padrão, funcionando quase como clubes VIP urbanos, onde a entrada é permitida, mas o proveito é exclusivo de poucos.

Outro fenómeno a considerar é o das cidades "cinzentas", tal como o são vários bairros de Bratislava, com edifícios padronizados, produto da indústria de prefabricação pesada, alinhados conforme os caminhos de gruas. Conhecidos como paneláks, aparecem pouco em fotos, reflexo da tendência de representação visual nos mass media e no turismo. Sem prejuízo do crescente interesse na exploração e documentação do urbanismo e arquitetura da era socialista, importa questionar sobre os hábitos de quem vive em lugares aparentemente tão pouco personalizados.

Coisa muito diferente ocorre nos bairros de lata, nas favelas, nos musseques, nas cidades de caniço, designações - que divergem, conforme a geografia - da realidade não muito distante dos bairros menos atrativos, socioeconomicamente desfavorecidos. Em 1976, Ettore Scola dirigiu "Feios, Porcos e Maus", uma belíssima sátira social que, ao retratar a vida de uma família numerosa e disfuncional em condições precárias nos subúrbios de Roma, realça a universalidade da marginalização. Nos últimos anos, as Covas da Moura emergiram em telenovelas como cenários, refletindo uma nova perspetiva sobre estas comunidades. Os contextos de adversidade revelam-se também, de modo curioso, como interessantes backgrounds para a fotografia de moda e para a exploração de novas estéticas..

 

A foto é da National Geographic.

A pinta que , há quase 100 anos, o Pai dos Turcos enendeu não colocar no "i" de Topkapı foi agora acrescentada, a título de reparação alfabética, ao ponto final do texto.

 

Sobre o blog

No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

Sobre mim

.
Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D