Well I am telling you there is hope. I have seen it. But it does not come from governments or corporations. It comes from the people.
Uma paisagem desértica desdobra-se, marcada por terreno irregular e montanhoso. A areia, em diversas tonalidades e texturas, forma pequenas dunas e cristas onde o vento soprou, quase apagando as pegadas – vestígios de um viajante recente ou talvez de um animal – que contrastam com a vastidão desabitada. A luz suave, provavelmente do fim de tarde, dá um tom dourado à cena, destacando a sua beleza serena e desolada.
Há seis mil anos, o Saara era uma área verdejante. Oscilações no eixo da Terra transformaram esta região num deserto – um processo natural, ao contrário da atual desertificação provocada pela atividade humana e pelas alterações climáticas. “Fogo que arde”, visível e notório, tempestades, inundação súbita dos “saudosos campos do Mondego”…
O território é como um papel de desenho. Lembro-me das palavras gaguejantes, mas certeiras, do meu mestre:
Olhai, senhores! Quando desenhamos... vede! Quando riscamos, o mais importante… aquilo que importa, senhores, é [definitivamente] não estragar a beleza de uma folha de papel em branco.
A aceleração das alterações climáticas tem impacto em todos os setores de atividade. Neste contexto, economistas e sábios de diversas áreas podem reduzir o papel do deserto a uma espécie de natureza morta. Paralelamente, o negacionismo ganha voz – uma recusa em enfrentar verdades desconfortáveis. “Os eunucos devoram-se a si mesmos.” O negacionismo nega-se a si próprio.
Enquanto isto, o vento e a areia compõem e recompõem a paisagem com as suas próprias lógicas e estéticas. São eles os elementos do deserto, os escultores de cenários e texturas.
Notas de citação:
“Well I am telling you there is hope” (Greta Thunberg).
“Fogo que arde sem se ver” e “saudosos campos do Mondego” (Luís de Camões).
“Os eunucos devoram-se a si mesmos” (José Afonso).