Geoestratégia
Muito antes de Vladimir e Volodymyr aparecerem na cena internacional, já se ouvira falar de um tal Baldemiro e das suas estórias. Costumava pedir cimbalino...
Baldemiro orientava-se bem na vida. Residia no único apartamento que lhe restara, herança de uma família outrora abastada que dominava metade do bairro, após o imóvel ter sido dividido em propriedade horizontal. Sacrificados os anéis, tinham-se poupado os dedos...
A fração autónoma ao lado da sua pertencia agora a Oriana, uma jovem por quem Baldemiro tinha uma secreta paixoneta. Ele permanecia durante horas à cata de Oriana, debruçado o mais que lhe era possível na varanda, a cantar baixinho músicas do Rui Veloso. Uma vez, Oriana reagiu: “Você fala praticamente espanhol, certo?”
Num belo sábado à tarde, Baldemiro resolveu convidar a vizinha a irem à Miss Pavlova tomar um cimbalino pingado. Oriana, sempre elegante e reservada, com um olhar determinado que refletia a sua personalidade e independência, respondeu: “Obrigada, mas estou a fazer dieta!”. Baldemiro, visivelmente frustrado, murmurou: “F…, isto nõo puode ser berdade, carago!”. Oriana, mantendo a postura firme e digna, apenas comentou: “Dizer asneiras é feio, ponto final”.
Foi a gota de água! Durante dias, ele postou-se à varanda, de peito nu, a fazer ginástica e, de tanto exercício, pulou, com a agilidade de um gato, para o lado de Oriana. Numa ação repentina, confinou-a ao quarto interior e tomou posse da sala com vistas para o Douro.
Com Baldemiro a dominar a sala e a sua varanda, a incerteza começou a espalhar-se pela vizinhança, que ao aperceber-se da situação lançava olhares preocupados. Ele, podendo ver tudo e todos, ia assobiando calmamente enquanto refletia sobre os próximos movimentos. Até ao dia em que passou a assobiar o “Anel de Rubi” à lourinha do andar de cima...