Drunke v. Husk
Crónica de um Ego-Naufrágio
Relato não autorizado de Drunke City, onde o disparate é lei e a realidade foi arquivada.
Na república alternativa de Drunke City, onde a lógica foi deportada e o ridículo governa por decreto diário, dois egos em rota de colisão disputam o título de Messias da Desordem Global.
De um lado, Ronald Drunke, presidente vitalício, orador compulsivo e devoto do spray capilar. Do outro, Zylon Husk, magnata intergaláctico, inventor de problemas e profeta do capitalismo de foguetão.
O que começou como uma aliança de conveniência — entre jantares protocolares e promessas de colonizar Marte com isenção fiscal — descambou, como sempre, em insultos públicos e disputas de audiência.
Esta semana, Drunke irrompeu no seu canal privado, Truthology, com o fervor de um tele-evangelista em crise de vaidade ferida:
“Husk ficou maluco! Um traidor da economia divina! E usa gravatas de poliéster como se fossem herança cultural!”
Husk, fiel à sua tradição de sarcasmo algoritmo-dependente, respondeu com uma sondagem na sua rede social, perguntando se Drunke deveria ser banido da realidade — as opções eram simples: “Banir Drunke da realidade” ou “Enviá-lo num foguetão para o exílio espacial”. A esmagadora maioria escolheu o silêncio eterno das estrelas.
A consequência foi previsível: as ações da SpaceHex caíram a pique, a Testa suspendeu os seus automóveis voadores e as criptomoedas… choraram em silêncio.
Entretanto, o pequeno X — filho de Husk e neto espiritual do índice Nasdaq — foi visto, na Sala Ovoide, a jogar xadrez contra si próprio… e a perder, enquanto os conselheiros de Drunke discutiam a forma correta de redefinir a palavra “facto”.
Entre os conselheiros, destacava-se Karmina Levix, Secretária de Fervor e Transmissão Moral, sempre com os microfones prontos e a maquilhagem imune à coerência. Leu, com voz sintética e entusiasmo programado, o comunicado oficial:
“Tudo decorre conforme previsto no plano que não pode ser revelado. Continuem a aplaudir.”
O povo obedeceu. Durante 37 minutos.
Como tornar tudo ainda pior
Como se o delírio ainda tivesse combustível, Husk anunciou a fundação do Partido da Singularidade Cómica, com uma doutrina clara:
“Se a realidade dói, reinventa-te como episódio de podcast.”
A proposta já conta com 12 milhões de seguidores, três slogans contraditórios e um hino composto inteiramente por notificações de smartphone, roncos sintéticos e um excerto da Constituição recitado ao contrário.
Fim do episódio — Até à próxima crise
Em Drunke City, onde as câmaras nunca se desligam e o ridículo é um dever cívico, Ronald Drunke e Zylon Husk prosseguem o seu duelo de vaidades em órbita.
Dois homens que poderiam ter alcançado as estrelas. Mas preferiram mergulhar no redemoinho dourado do espetáculo permanente.
Porque em Drunke City, a lógica foi exilada, a verdade convertida em entretenimento e o pensamento crítico declarado inimigo da audiência. A verdade foi ao espaço… e o bom senso ficou preso na alfândega.