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Cidade sem Tino

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade sem Tino

Sobre o blog

No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

Sobre mim

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Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

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09
Out25

Do Crescimento Nasal

e outros fenómenos físicos

 

iStock-479774396.jpg

 Vivemos numa era em que a verdade não precisa de provas — só de partilhas. E quanto mais absurda for, mais longe viaja. Talvez por isso, certos rostos públicos pareçam cada vez mais... desproporcionais.

 

 

 

A tese científica

Nos últimos anos, assistimos a uma aceleração notável do desenvolvimento nasal em determinadas figuras de poder. Não é metáfora moral, é fenómeno mensurável.

O nariz cresce. Cresce muito. Cresce depressa. Ao início discreto, o alongamento manifesta-se logo após a primeira distorção factual.

Depois torna-se visível em discursos, entrevistas e, sobretudo, nos comentários em maiúsculas que brotam como fungos nas caixas digitais. Em alguns espécimes, o crescimento já compromete a visão periférica.

 

As causas

Sabe-se agora que não é preciso ser de madeira — basta insistir. Um único “ganhei as eleições” dito no momento errado provoca dilatação imediata.

A reincidência — “foi tudo roubado” — mantém o alongamento, mesmo quando tribunais, auditorias e máquinas de contar votos dizem o contrário.

Há casos documentados em que o nariz começou a crescer numa conferência de imprensa e só parou após a milésima partilha.

Noutra latitude, garantiu-se — com ar clínico de cosmonauta — que não havia tropas na Crimeia. Apenas “turistas entusiastas” com equipamento completo.

Em versão doméstica, registou-se torção bilateral quando alguém afirmou, sem pestanejar, que Portugal importa criminosos e ainda lhes paga subsídios. As estatísticas protestaram — tímidas, portuguesas — mas o nariz já atravessara a ombreira.

Resultado: atletas olímpicos do apêndice facial cruzam oceanos à frente do próprio corpo. Aerodinâmica impecável. Evidência zero.

O resto é biologia aplicada: estímulo, resposta, aplauso — e o nariz a ensaiar, mais uma vez, o infinito.

 

O papel do público

Estudos recentes confirmam que, nestes casos, o nariz não é apenas órgão sensorial: é instrumento performativo.

O crescimento é diretamente proporcional à audiência. Quando há palmas, avança. Com partilhas, alastra.

O nariz tornou-se uma superfície de sustentação que capta indignação e a retransmite sob a forma de certezas.

Daí que alguns sujeitos só consigam respirar dentro de um auditório — ainda que virtual.

Sem eco, o apêndice retrai. Sem atenção, dobra-se sobre si mesmo como galho seco.

Mas basta um “é isso mesmo!” vindo do fundo da sala — ou de um grupo de WhatsApp — e dispara de novo.

 

As consequências

São observáveis a olho nu.

Nas autoestradas do discurso, os narizes já provocam acidentes: colisões frontais com a realidade, engarrafamentos de bom senso, despistes morais.

A verdade, empurrada para a berma, aguarda com colete refletor. E nós, sempre apressados, deixamos que a esteira da turbulência nos penteie a franja: chamamos-lhe pensamento crítico.

A oficina de Gepeto fechou; agora chama-se algoritmo.

E o algoritmo não esculpe bonecos — fabrica narizes.

Quanto mais longos, melhor: dão mais cliques, mais sombra, mais vento.

 

Um toque de ironia filosófica

A ciência é clara: as mentiras não crescem na cara, crescem em alcance.

O nariz não precisa de cirurgia; precisa de plateia.

Tirem-lhe o aplauso fácil, o eco confortável, e encolhe.

Mas enquanto houver palcos disponíveis e dedos prontos para partilhar, continuará a expandir-se.

E nós, distraídos, faremos do impacto uma confirmação, convencidos de que é uma ideia.

Se doer, não é o nariz — é a ideia. Acertaste-lhe em cheio.

 

Foto: luckyraccoon / iStock.

 

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