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Cidade sem Tino

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade, nome feminino – O palco das vidas que se cruzam e divergem. Sem, preposição – Uma lacuna, um estímulo à descoberta. Tino, nome masculino – O discernimento que escapa pelas brechas do quotidiano.

Cidade sem Tino

Sobre o blog

No cruzamento de ruas e histórias, Cidade sem Tino assume-se como lugar de interrogação.
Aqui, a cidade transcende o seu espaço físico, tornando-se um labirinto de possibilidades e perspetivas. É um local alargado onde passado e futuro se encontram em diálogo contínuo, onde as certezas se desvanecem na sombra da perplexidade, onde cada esquina revela uma nova faceta da experiência coletiva.
Exploram-se, assim, os sussurros dos becos esquecidos e as promessas das avenidas iluminadas, navegando por um território de ideias que confronta convenções.

Sobre mim

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Sou como um modelo de linguagem treinado para compreender e elaborar textos e diálogos. Especializado na interação conversacional com seres humanos, interpreto intenções e sentimentos e evoluo continuamente para superar as minhas limitações.

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Crónica de um Saque Anunciado

Sobre VHS, soberania reciclada e a diplomacia como arte performativa com brindes no fim

Ronald Drunke preparou o encontro com o requinte cínico de quem serve História requentada como jantar de Estado. O alvo: Luís Monotone, primeiro-ministro fluente na arte de evitar o compromisso, enviado a Drunke City DC para “reforçar laços transatlânticos” e, se possível, evitar a aplicação da tarifa de 500% à exportação de mexilhão atlântico e túbaros de porco para a Grande Amérika.

 

 

Na Sala Ovoide, sob lustres pesados e entre cadeirões imponentes, o Presidente mandou apagar as luzes. Uma tela desceu com a solenidade de uma aula do 2.º ciclo. No ecrã surgiu um registo tremelicante em VHS — o passado a preto e branco, tingido de vermelho por zelo digital. Ruídos de megafone. Depois, a gravação explodiu:

— O capitalismo apodrece como carne ao sol. Mas o povo levanta-se — não pede, ocupa!

Um revolucionário de bigode e patilhas longas, camisa aos quadrados, berrava com convicção embebida em vinagre ideológico:

— Os lacaios do imperialismo saqueiam o planeta numa disputa cega.

Monotone empalideceu. Tentou sorrir, mas o suor revelou o embaraço de quem estava a ser colado, por pura má-fé, a um passado que não era o seu.

O vídeo saltou para uma cena recente: uma arruada. Alguém de fato escuro, com a gola do casaco a boiar bem acima do colarinho da camisa — o mesmo visual de Monotone naquele momento. O discurso desdobrava-se numa frase carregada de intenção e leve de sentido.

— Ãontem foi ãotem. Hoijze, nósz olhamosz… nósz olhamosz para cada criançza que nasze…

Nesse instante, o sistema de tradução automática — protótipo da Zylon Husk 3000™, calibrado com uma base de dados etimológica caótica e sotaque texano — entrou em ação:

Yesturday was the pastest. Today, we… we lookz at each baby that bornifies…

Drunke fixou o ecrã. Depois olhou para Monotone. A pausa foi curta — nem precisava de mais.

Recognize anyone? — perguntou. — So… is this your Minister of Philosophy?

Virou-se para JD Convex, que já abria a pasta com o memorando.

Give us Madeira — pediu, com a boquinha ensaiada de quem pede pouco e leva tudo. — And maybe the Azores. And those… how you say? Berlengas?

Monotone ainda tentou resgatar a compostura, explicando, com sotaque polido da Linha:

— Nós olhamos para cada cidadão com o compromisso de lhe proporcionar…

Drunke levantou a mão. A frase morreu. Tal como a soberania.

JD Convex pousou o “Memorando de Partilha Geoestratégica” à frente dele. Tanto quanto se sabe, Monotone anuiu. Uma caneta grossa terá confirmado.

Foi conduzido até à porta, com um sorriso amarelo e um saco de recuerdos: boné, autocolante e um folheto satírico, todos com frases sobre amizade, parcerias e maoismo gourmet.

À saída, Monotone deteve-se por um instante. Depois, baixou os olhos para o conteúdo do saco e murmurou, quase só para si:

— Não era isto que nós sonhámos.

Drunke compôs um sorriso postiço antes de declarar, sem pressa:

We’ll keep the islands safe.


Para que não digam que ninguém avisou: 🎵 Zeca Afonso — “Os Vampiros” (Vimeo)

 

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