A Ordem do Absurdo
Senhoras e senhores, chegou o momento de Portugal se levantar contra a tirania das grandes potências! O nosso novo presidente, homem de visão e de um volume vocal impressionante, tomou posse com um discurso inflamado:
"O que os Estados Unidos andam a fazer é mau para Portugal, muito mau! A nossa principal prioridade é criar uma nação orgulhosa, próspera e livre. Hoje vou assinar uma série de ordens executivas históricas!"
E assinou. Com um pincel de 50 mm, num livro de 35 linhas, formato A1. Entre as medidas urgentes, destacavam-se:
- Retaliação contra a oligarquia americana – lançar uma ofensiva simbólica com aviões de papel no Golfo da América, enquanto, em total sigilo, se dava início a uma operação naval no Arkansas.
- Autonomia estratégica – nacionalizar a uva americana e americanizar o vinho do Cartaxo, agora vendido em packs com palhinha de plástico, sem taxas aduaneiras.
- Guerra cultural – invadir as McDonald's com menus de cozido à portuguesa e ocupar os ecrãs gigantes de Times Square com vídeos da Cristina Ferreira.
- Justiça política – enviar os vikings e o seu chefe para Rikers Island e deportar um certo magnata das redes sociais, devidamente acorrentado, para a África do Sul.
Entretanto, em Nova Iorque, Sua Excelência, o Embaixador do Absurdo (cargo que já foi de Cantinflas, convém lembrar) discursava na ONU: "Se as grandes potências podem reescrever o direito internacional conforme lhes apetece, porque não podemos nós?" – questionou, enquanto distribuía pastéis de nata às delegações presentes.
Ao mesmo tempo, nos ecrãs da CNN, Marques Mendes estreava-se como analista de política internacional. Diante dele, Larry King perguntava: "Portugal está a desafiar a ordem mundial?" Com a autoridade de quem sempre teve razão, o ex-candidato respondia: "Larry, Portugal não desafia. Portugal impõe."
Nos bastidores, o FMI e a NATO discutiam se deviam rir ou enviar um porta-aviões para a marina de Cascais. Em Bruxelas, altos dignitários da UE analisavam a situação com sobriedade, até que um deles resumiu: "Se isto continuar, ainda vai haver quem peça um referendo."
Lá fora, o mundo girava, indiferente. Afinal, se a política já é uma sátira, para que servem os humoristas?
Créditos: mapa da Gulf Shores News