Em Busca de Bayan
Bayhan Mutlu, de 50 anos, foi dado como desaparecido por amigos numa vila perto de Inegöl, na Turquia, depois de ter ficado embriagado no bosque, não regressando para junto do grupo.
Quando as equipas de busca e salvamento foram mobilizadas, gritaram por Bayhan com a urgência típica de quem teme o pior. Porém, no auge do desespero, uma voz emergiu não do além, mas no meio deles: "Afinal, estamos à procura de quem? Eu estou e sempre estive aqui". Bayhan não só não estava perdido, como também se encontrava entre aqueles que o procuravam.
Este curioso incidente levanta questões importantes sobre os protocolos de proteção civil. Como é possível que uma pessoa visivelmente presente tenha passado despercebida a tantos olhares atentos? A situação destaca a necessidade de melhorar os métodos de recrutamento e formação dos socorristas, prevenindo ocasionais faltas de cuidado quando menos se espera.
No campo da comunicação e perceção, o episódio lembra que, por vezes, mesmo os mais próximos podem tornar-se figuras irreconhecíveis, perdidos num mar de suposições e descuido na observação. Bayhan, dentro da sua inadvertida camuflagem, torna-se um espelho da falta geral de atenção aos pormenores importantes do quotidiano.
A solidariedade, essa força misteriosa que une as pessoas em tempos de crise, ficou claramente evidenciada. Amigos e estranhos vieram juntos, lanternas na mão, corações alinhados num propósito, todos em busca do homem que, sem saber, procurava mais do que apenas o caminho de volta; procurava uma ligação, um fio invisível que, felizmente, nunca foi cortado.
O papel do álcool nesta história é inegável. Embriagado, Bayhan tornou-se vítima do consumo excessivo, perdendo a noção da realidade. Curiosamente, o estado de embriaguez às vezes revela verdades inesperadas, que emergem apenas quando as barreiras são momentaneamente derrubadas.
E então importa concluir com as implicações filosóficas desta aventura. A história confusa de que Bayan é o protagonista levanta uma questão inevitável: quantas vezes andarão as pessoas em busca de si mesmas? Perdidas nos seus pensamentos, desencontros e paradoxos existenciais, comportam-se, de certa forma, como qualquer Bayhan num bosque escuro, a chamar pelo seu próprio nome na esperança de se encontrarem.
Este relato foi divulgado em 29 de setembro de 2021 pelo Correio da Manhã. Embora a história de Bayhan tenha encontrado eco neste jornal, as reflexões que merecem destaque ficaram naturalmente omissas. Tenta-se aqui preencher tal lacuna com a devida consideração que o incidente e o seu protagonista merecem.